domingo, 26 de abril de 2020

9º tema: A Sabedoria distingue trevas e luz, morte e vida.


Ler: Sabedoria, cap. 17-19

Nos capítulos 17,18 e 19 do livro da Sabedoria continua a descrição dos paralelismos, os sinais que querem ajudar o povo de Deus a abrir “os olhos” para ver o agir de Deus no passado e viver da mesma fé no presente.

Trevas e luz: Prisioneiros das trevas.

Cap. 17, vv. 1-10: vem mostrada a nona praga, aquela das trevas, no seu dúplice efeito, apresenta-se: as trevas externas, à noite (até o versículo 5) do v. 6 ao v. 10 as trevas internas, o medo. Os teus julgamentos são grandes e difíceis de compreender, por isto as almas sem instrução se extraviaram. Os injustos imaginando que podiam oprimir uma nação santa, ficaram presos pelas trevas prisioneiros de uma longa noite, fechados em suas casas e excluídos da providência eterna. Pensavam ficar ocultos com seus pecados secretos, debaixo do véu sombrio do esquecimento. Mas foram dispersos, mergulhados em horrível medo e aterrorizados por alucinações. Pois nem o esconderijo em que se abrigavam os preservou do medo: ao redor deles, ribombavam ruídos assustadores e lhes apareciam fantasmas tétricos de rostos sinistros.Aqueles que se julgavam patrões, na realidade são prisioneiros da noite porque as trevas lhes aprisionam nas suas casas onde se mantém protegidos e ao contrário são mesmos atingidos de assaltos, até no íntimo da sua vida, pelas imaginações mais obsessivas. Aparecia-lhes apenas uma chama de fogo, que se acendia, por si mesma, espalhando terror. Quando essa visão desaparecia da frente deles, ficavam aterrorizados e julgavam ainda pior o que tinham acabado de ver. Os artifícios da magia fracassaram completamente, e seu alarde de ciência ficou vergonhosamente confundido. De fato, aqueles que prometiam expulsar das almas enfermas os terrores e inquietações, caíam eles próprios vítimas de pânico ridículo.O v. 6 concentra a atenção mesmo sobre estas trevas interiores: a prevista possessão dos próprios sentimentos a obra de algumas magias cai numa patologia que é sempre mais angustiante e ridícula.

Como sair do insuportável medo: abrir-se ao Mistério.

Do v. 11 ao v. 14 se abre um pequeno desvio a cerca do medo: O medo é apenas a falta do socorro que vem da reflexão: quanto menos reflexão interior tivermos, mais alarmante parecerá ser a causa oculta do tormento. Durante aquela noite de fato impotente, saída das profundezas do impotente reino dos mortos, e todos entregues ao mesmo sono, eles eram, ora perseguidos por fantasmas monstruosos, ora ficavam paralisados pelo abatimento da alma, invadidos pelo terror inesperado e repentino que caía sobre eles:o medo é coligado com a irracionalidade em toda a sua evidência, donde vem rejeitada a linguagem do Mistério. Todas as realidades deste mundo são advertidas, ouvidas, rápidas como existências carcerárias. É insuportável a condição humana como sendo o contexto de ordem física, psíquica ou social na qual nos encontramos a viver. O mundo inteiro, iluminado por luz radiante, se entregava aos seus trabalhos. Somente sobre eles se estendia a noite profunda, imagem das trevas que os deviam receber. Contudo, eles mesmos eram para si próprios mais pesados do que as trevas: existe luz no resto do mundo, mas para os egípcios a noite é profunda e insuportável: quem se encontra nas trevas adverte que em torno ao circuito obscuro no qual se foi apanhado, existe luz, mas inatingível.

Luz para os justos.

Cap. 18, vv. 1-4. Para os teus santos, porém, havia plena luz. Os outros, que lhes ouviam as vozes, mas não lhes viam a figura, os felicitavam por não estarem sofrendo. Também lhes agradeciam por não lhes terem feito mal, apesar de maltratados, e lhes pediam por favor que fossem embora: a perspectiva se inverte: enquanto os egípcios estão nas trevas, os hebreus estão na luz e compreendendo o drama dos egípcios, têm piedade. Os egípcios intuem a situação de máxima fraqueza na qual se encontram pelo qual poderiam serem agredidos, enquanto o contrário não é assim. Em vez de trevas, deste aos teus uma coluna de fogo, para guiá-los no caminho desconhecido, como sol inofensivo que iluminava sua gloriosa migração. Os outros mereciam ficar sem luz e aprisionados pelas trevas, porque haviam aprisionado os teus filhos, que iriam transmitir ao mundo a luz incorruptível da tua Lei.Treva e luz: os egípcios nas trevas se dão conta da luz, e os hebreus na luz estão em grau de compreender o que quer dizer ser prisioneiros; eles que eram escravos. Os hebreus na luz estão em grau de transmitir aos egípcios uma mensagem de compaixão.

Morte, vida e libertação: pré-anúnciopascal: noite de morte e de nascimento.

Vv. 5-19. Chega-se agora ao último grande quadro que o nosso mestre lembra com muitas partes sublinhadas. Se trata da última praga: a praga dos primogênitos. Da noite, no sentido das trevas que invadem sobre o território do Egito e que se infiltram nos refúgios mais secretos da alma humana, a noite dos primogênitos: é a noite de Páscoa.Porque eles decidiram matar os filhos dos santos, e um só menino, abandonado, se salvou. Como castigo, eliminaste os filhos deles em massa, e os fizeste morrer todos nas águas impetuosas:neste versículo se sobressaem duas imagens, se passa da noite dos filhos primogênitos à travessia do mar, quando as ondas arrastam o exército do faraó.Aquela noite já fora anunciada aos nossos antepassados, para que tivessem ânimo, sabendo com certeza em que promessas haviam acreditado. Teu povo esperava a salvação dos justos e a ruína dos inimigos. E, de fato, enquanto punias os adversários, tu nos cobrias de glória, chamando-nos para ti. Os filhos santos dos justos ofereciam sacrifícios às escondidas e, de comum acordo, estabeleceram esta lei divina: os santos participariam solidariamente dos mesmos bens e perigos. E fariam isso entoando os cânticos dos antepassados.Èanoite de Páscoa, a noite no curso da qual os filhos, que são os hebreus que habitavam no Egito, oficialmente ainda escravos, manifestam já serem libertos cantando o louvor do Senhor, as suas casas são assinaladas pelo sangue do Cordeiro.Faziam eco o grito confuso dos inimigos e ressoavam as lamentações dos que choravam seus filhos. Embora desacreditassem de tudo por causa de sua magia, quando seus primogênitos morreram eles reconheceram que aquele povo era filho de Deus:os egípcios, sempre naquela noite, são conduzidos à experiência suprema da dor e da derrota com a morte dos seus primogênitos. Enquanto um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite estava pela metade, a tua palavra todo-poderosa veio do alto do céu, do teu trono real, como guerreiro implacável, e se atirou sobre uma terra condenada ao extermínio. Ela trazia, como espada afiada, a tua ordem sem apelação. Parou e encheu tudo de morte; tocava o céu e caminhava sobre a terra:é a noite na qual nasce o Filho primogênito de Deus; não é a noite da morte, é a noite do nascimento. Lembra a nós uma cena extremamente macabra, mas esta é a cena da história humana; tudo é em obediência à palavra do Senhor que realiza de dentro desta aventura dramática, uma obra de libertação que abre o caminho de retorno para a vida.

A intercessão de um justo.

Vv. 20-25. Também os justos foram atingidos pela provação da morte, e no deserto foi abatido um grupo numeroso(Nm17); mas a ira não durou muito tempo, porque um homem irrepreensível (Aarão) apressou-se em defendê-los; manejando as armas do seu ministério sacerdotal, a oração e o incenso pelos pecados; ele enfrentou a ira divina e deu fim à desgraça, mostrando que era teu servo. Ele venceu com a palavra que aplacou aquele que castigava, recordando-lhe as promessas e as alianças feitas com os antepassados. Os mortos tinham caído aos montes, uns sobre os outros. Ele, porém, colocou-se no meio deles, deteve a ira e cortou o caminho dela para que não atingisse os sobreviventes. Assim como os hebreus foram salvos do exterminador pelo sangue do Cordeiro que marcava as suas casas, agora no deserto a intercessão de Aarão aplaca a ira do Senhor e dá fim ao extermínio dos israelitas.

Esquecimento e memória.

Cap. 19. Recordar os acontecimentos já passados pela nossa vida é um modo para advertir que a relação com o Vivente está presente, vivíssima e ainda acompanha e acompanhará a nossa aventura humana; as oposições nos fizeram repercorrer a história do Êxodo e demonstrado que se pode ter resistência ou abertura do coração, se pode ser justos ou ímpiossegundo de como nos posicionamos a respeito à visita do Senhor. Este capítulo celebra o louvor do Senhor: não se fala com Deus na terceira pessoa, mas é um face a face diante dele, para recordarmos que, em qualquer lugar nos encontramos, sempre, estamos na sua presença. Recapitula toda a história santa, porque recorda a passagem do mar; o Êxodo representa os altos e baixos da vida de cada homem que está na existência, dentro de uma viagem que se torna uma saída e uma entrada e a nossa vida é rumo à irmã morte, êxodo final para uma criação renovada, onde o maná se tornará o alimento de incorruptibilidade e da imortalidade, do qual a Eucaristia é sinal sacramental em Jesus, pelo qual entramos na plenitude da vida. Este livro nos levou a remetermos em sintonia com uma história distante para dar gosto, sentido, direção e esperança a aquela história muito próxima que somos nós.

I vv 1-5 mostram a inflexibilidade de Deus em perseguir o seu projeto de salvação; diante deste amor, a resistência é resistência de morte, «morte singular»para os egípcios que apesar da praga dos primogênitos, se esquecem de ter pedido perdão aos Israelitas, de tê-los feito partir e os perseguem. Esquecer as coisas passadas permite o mal e, sem que se dê conta, faz tomar extremas decisões erradas, assim enquanto os egípcios são submersos, os israelitas passam o mar, para eles se abre uma planície larga, rica de ervas e árvores frutíferas e se tomam conta da ajuda do Senhor.

Nos vv 6-12 existe uma releitura de Gênesis que fala da criação. É uma recordação do passado com um olhar no futuro: o Senhor cede a criação ao seu desígnio, então, para tornar belo o caos do mundo, para chegar a uma criação renovada e transfigurada. Todos os dias o Senhor nos atinge com a beleza divina e com a força da vida e, através da criação e as vicissitudes que nos acontece, nos liberta.

I vv 13-17 nos leva a uma reflexão: como os egípcios nunca reconheceram a visita do Senhor e mais uma vez se endureceram? Porque odeiam os estrangeiros, os hebreus, que adoram um Deus que acolhe todos. Israel segundo o coração de Deus, é intercessão para o mundo, pensa à criação, não deveria jamais haver ódio pelo estrangeiro porque ninguém é estrangeiro para o Senhor e o espírito incorruptível de Deus está em cada criatura, em nós assim como no último refugiado que bate à porta. Segundo o autor, a incapacidade dos egípcios para acolher os estrangeiros, que antes tinham beneficiado e que tinham sido uma providência para o Egito, os queriam oprimir com trabalhos pesados e reduzí-los como animais, é pecado mais grave do que o de Sodoma. O efeito deste pecado é a morte de quem odeia: torna os egípcios cegos à vista de Deus e para a salvação que está operando; não vêm a criação que se transforma e nela a presença do Senhor. Em tudo isto, ao contrário, os justos vêm bem, com os olhos de quem se apercebe que o Senhor acompanha e acompanhará. São passados através de todas as forças da natureza (fogo, água, animais...), o saíram não por seus méritos, mas porque em todos os modos Deus torna glorioso o seu povo que assiste em todos os lugares e momentos.

Deus faz saltar as leis da natureza para fazermos graça, para que continuemos a celebrar a beleza do seu amor misericordioso, para que guardemos a criação sentido-nos hóspedesdo mundo, sentindo que o Senhor tem os olhos sobre nós para levar-nos a ele, para que advertimos a sua graça no nosso coração, na mente, na consciência, nos nossos afetos, nos pensamentos, nas relações. Para celebrar os louvores da Sabedoria.

Vincenza

Senhor Jesus, suscita santos. És tu que salvas as almas, que as inundas de luz divina, que vivificas à vida divina. Também a nós concedes o desejo de ser instrumentos da tua luz, da tua caridade divina no mundo, nas almas. Tu fazes os gênios, os cientistas que descobrem, que revelam aos homens as sábias leis da natureza, que descobrem e revelam a vida que ferve no universo que, tu Sabedoria, e Bondade, criastes para o homem. Imerges as almas no teu preciosíssimo sangue, atrai-as ao teu coração, sobre a tua cruz: cruz de amor que comprova o amor por ti e faz os santos. Meu Deus, Trindade adorada, com a tua atividade divina mandas o fogo nas almas, o fogo que queima, que purifica, que vivifica, e eles no crisol da tua caridade são transformadas em ti. Tu o queres, tu dás às nossas almas a vontade ardorosa, no deserto ardente. Vem, Senhor: une a ti as nossas almas. Enquanto estamos no mundo faz que vivamos no teu coração, no silêncio divino da tua palavra em nós, no silêncio da tua caridade que nos faz contigo uma só vida divina; na oração tu nos tolhes a nós e ao mundo. Comprova a nossa fraqueza, tornas firme a nossa vontade. Infundes no nosso coração a força suave do teu divino amor.(março 1965, CdA II, 43-44).

O exemplo de São Francisco:

Saudação às virtudes (FF 256-258). Enquanto as outras virtudes são as senhoras, a Sabedoria é a rainha, porque com ela teremos também as outras.



Para refletir.

 - Hoje estamos sob os poderes do mundo que buscam sensacionalismo para suscitar as paixões no homem e para depois dominá-lo. Desta forma, tantos acontecimentos naturais se tornam ainda mais trágicos. Somos também nós atacados pela ânsia porque pensamos que devemos dominar a história e mudá-la com as nossas forças?



- Acreditamos ainda na providência eterna? Pensamos que a sabedoria deste mundo e a coleção das informações sobre tudo isto que acontece é o nosso poder e a arma no combater o mal no mundo?



- O que é a base da nossa razão e do nosso juízo? É a sabedoria divina que nos ajuda a discernir a luz das trevas e nos faz caminhar na luz mesmo quando estamos nas trevas, ou nos confiamos no julgamento deste mundo, fechado em mim mesmo e tenho medo do futuro?



- Procuramos perdoar a quem nos oprime? Acreditamos que a noite da morte é também a noite do nascimento? Recordamos as obras de Deus na nossa vida, na Igreja, no Instituto, ou nos tornamos escravas do esquecimento que nos mantém ligadas nas trevas?

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