Ler: Sabedoria, cap. 17-19
Nos capítulos 17,18 e 19 do livro
da Sabedoria continua a descrição dos paralelismos, os sinais que querem ajudar
o povo de Deus a abrir “os olhos” para ver o agir de Deus no passado e viver da
mesma fé no presente.
Trevas e luz: Prisioneiros das
trevas.
Cap. 17, vv. 1-10: vem mostrada a
nona praga, aquela das trevas, no seu dúplice efeito, apresenta-se: as trevas externas,
à noite (até o versículo 5) do v. 6 ao v. 10 as trevas internas, o medo. Os
teus julgamentos são grandes e difíceis de compreender, por isto as almas sem
instrução se extraviaram. Os injustos imaginando que podiam oprimir uma nação
santa, ficaram presos pelas trevas prisioneiros de uma longa noite, fechados em
suas casas e excluídos da providência eterna. Pensavam ficar ocultos com seus
pecados secretos, debaixo do véu sombrio do esquecimento. Mas foram dispersos,
mergulhados em horrível medo e aterrorizados por alucinações. Pois nem o
esconderijo em que se abrigavam os preservou do medo: ao redor deles,
ribombavam ruídos assustadores e lhes apareciam fantasmas tétricos de rostos
sinistros.Aqueles que se julgavam patrões, na realidade são prisioneiros da
noite porque as trevas lhes aprisionam nas suas casas onde se mantém protegidos
e ao contrário são mesmos atingidos de assaltos, até no íntimo da sua vida,
pelas imaginações mais obsessivas. Aparecia-lhes apenas uma chama de fogo,
que se acendia, por si mesma, espalhando terror. Quando essa visão desaparecia
da frente deles, ficavam aterrorizados e julgavam ainda pior o que tinham
acabado de ver. Os artifícios da magia fracassaram completamente, e seu alarde
de ciência ficou vergonhosamente confundido. De fato, aqueles que prometiam
expulsar das almas enfermas os terrores e inquietações, caíam eles próprios
vítimas de pânico ridículo.O v. 6 concentra a atenção mesmo sobre estas
trevas interiores: a prevista possessão dos próprios sentimentos a obra de
algumas magias cai numa patologia que é sempre mais angustiante e ridícula.
Como sair do insuportável medo:
abrir-se ao Mistério.
Do v. 11 ao v. 14 se abre um
pequeno desvio a cerca do medo: O medo é apenas a falta do socorro que vem
da reflexão: quanto menos reflexão interior tivermos, mais alarmante parecerá
ser a causa oculta do tormento. Durante aquela noite de fato impotente, saída
das profundezas do impotente reino dos mortos, e todos entregues ao mesmo sono,
eles eram, ora perseguidos por fantasmas monstruosos, ora ficavam paralisados
pelo abatimento da alma, invadidos pelo terror inesperado e repentino que caía
sobre eles:o medo é coligado com a irracionalidade em toda a sua evidência,
donde vem rejeitada a linguagem do Mistério. Todas as realidades deste mundo
são advertidas, ouvidas, rápidas como existências carcerárias. É insuportável a
condição humana como sendo o contexto de ordem física, psíquica ou social na
qual nos encontramos a viver. O mundo inteiro, iluminado por luz radiante,
se entregava aos seus trabalhos. Somente sobre eles se estendia a noite
profunda, imagem das trevas que os deviam receber. Contudo, eles mesmos eram
para si próprios mais pesados do que as trevas: existe luz no resto do
mundo, mas para os egípcios a noite é profunda e insuportável: quem se encontra
nas trevas adverte que em torno ao circuito obscuro no qual se foi apanhado,
existe luz, mas inatingível.
Luz para os justos.
Cap. 18, vv. 1-4. Para os teus
santos, porém, havia plena luz. Os outros, que lhes ouviam as vozes, mas não
lhes viam a figura, os felicitavam por não estarem sofrendo. Também lhes
agradeciam por não lhes terem feito mal, apesar de maltratados, e lhes pediam
por favor que fossem embora: a perspectiva se inverte: enquanto os egípcios
estão nas trevas, os hebreus estão na luz e compreendendo o drama dos egípcios,
têm piedade. Os egípcios intuem a situação de máxima fraqueza na qual se
encontram pelo qual poderiam serem agredidos, enquanto o contrário não é assim.
Em vez de trevas, deste aos teus uma coluna de fogo, para guiá-los no
caminho desconhecido, como sol inofensivo que iluminava sua gloriosa migração.
Os outros mereciam ficar sem luz e aprisionados pelas trevas, porque haviam
aprisionado os teus filhos, que iriam transmitir ao mundo a luz incorruptível
da tua Lei.Treva e luz: os egípcios nas trevas se dão conta da luz, e os
hebreus na luz estão em grau de compreender o que quer dizer ser prisioneiros;
eles que eram escravos. Os hebreus na luz estão em grau de transmitir aos
egípcios uma mensagem de compaixão.
Morte, vida e libertação: pré-anúnciopascal:
noite de morte e de nascimento.
Vv. 5-19. Chega-se agora ao último
grande quadro que o nosso mestre lembra com muitas partes sublinhadas. Se trata
da última praga: a praga dos primogênitos. Da noite, no sentido das trevas que
invadem sobre o território do Egito e que se infiltram nos refúgios mais
secretos da alma humana, a noite dos primogênitos: é a noite de Páscoa.Porque
eles decidiram matar os filhos dos santos, e um só menino, abandonado, se salvou.
Como castigo, eliminaste os filhos deles em massa, e os fizeste morrer todos
nas águas impetuosas:neste versículo se sobressaem duas imagens, se passa
da noite dos filhos primogênitos à travessia do mar, quando as ondas arrastam o
exército do faraó.Aquela noite já fora anunciada aos nossos antepassados,
para que tivessem ânimo, sabendo com certeza em que promessas haviam
acreditado. Teu povo esperava a salvação dos justos e a ruína dos inimigos. E,
de fato, enquanto punias os adversários, tu nos cobrias de glória, chamando-nos
para ti. Os filhos santos dos justos ofereciam sacrifícios às escondidas e, de
comum acordo, estabeleceram esta lei divina: os santos participariam
solidariamente dos mesmos bens e perigos. E fariam isso entoando os cânticos
dos antepassados.Èanoite de Páscoa, a noite no curso da qual os filhos, que
são os hebreus que habitavam no Egito, oficialmente ainda escravos, manifestam
já serem libertos cantando o louvor do Senhor, as suas casas são assinaladas
pelo sangue do Cordeiro.Faziam eco o grito confuso dos inimigos e ressoavam
as lamentações dos que choravam seus filhos. Embora desacreditassem de tudo por
causa de sua magia, quando seus primogênitos morreram eles reconheceram que
aquele povo era filho de Deus:os egípcios, sempre naquela noite, são
conduzidos à experiência suprema da dor e da derrota com a morte dos seus
primogênitos. Enquanto um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a
noite estava pela metade, a tua palavra todo-poderosa veio do alto do céu, do
teu trono real, como guerreiro implacável, e se atirou sobre uma terra
condenada ao extermínio. Ela trazia, como espada afiada, a tua ordem sem
apelação. Parou e encheu tudo de morte; tocava o céu e caminhava sobre a terra:é
a noite na qual nasce o Filho primogênito de Deus; não é a noite da morte, é a
noite do nascimento. Lembra a nós uma cena extremamente macabra, mas esta é a
cena da história humana; tudo é em obediência à palavra do Senhor que realiza
de dentro desta aventura dramática, uma obra de libertação que abre o caminho
de retorno para a vida.
A intercessão de um justo.
Vv. 20-25. Também os justos
foram atingidos pela provação da morte, e no deserto foi abatido um grupo
numeroso(Nm17); mas a ira não durou muito tempo, porque um homem
irrepreensível (Aarão) apressou-se em defendê-los; manejando as armas do
seu ministério sacerdotal, a oração e o incenso pelos pecados; ele enfrentou a
ira divina e deu fim à desgraça, mostrando que era teu servo. Ele venceu com a
palavra que aplacou aquele que castigava, recordando-lhe as promessas e as
alianças feitas com os antepassados. Os mortos tinham caído aos montes, uns
sobre os outros. Ele, porém, colocou-se no meio deles, deteve a ira e cortou o
caminho dela para que não atingisse os sobreviventes. Assim como os hebreus
foram salvos do exterminador pelo sangue do Cordeiro que marcava as suas casas,
agora no deserto a intercessão de Aarão aplaca a ira do Senhor e dá fim ao
extermínio dos israelitas.
Esquecimento e memória.
Cap. 19. Recordar os acontecimentos
já passados pela nossa vida é um modo para advertir que a relação com o Vivente
está presente, vivíssima e ainda acompanha e acompanhará a nossa aventura
humana; as oposições nos fizeram repercorrer a história do Êxodo e demonstrado
que se pode ter resistência ou abertura do coração, se pode ser justos ou
ímpiossegundo de como nos posicionamos a respeito à visita do Senhor. Este
capítulo celebra o louvor do Senhor: não se fala com Deus na terceira pessoa,
mas é um face a face diante dele, para recordarmos que, em qualquer lugar nos
encontramos, sempre, estamos na sua presença. Recapitula toda a história santa,
porque recorda a passagem do mar; o Êxodo representa os altos e baixos da vida
de cada homem que está na existência, dentro de uma viagem que se torna uma
saída e uma entrada e a nossa vida é rumo à irmã morte, êxodo final para uma
criação renovada, onde o maná se tornará o alimento de incorruptibilidade e da
imortalidade, do qual a Eucaristia é sinal sacramental em Jesus, pelo qual
entramos na plenitude da vida. Este livro nos levou a remetermos em sintonia
com uma história distante para dar gosto, sentido, direção e esperança a aquela
história muito próxima que somos nós.
I vv 1-5 mostram a inflexibilidade
de Deus em perseguir o seu projeto de salvação; diante deste amor, a
resistência é resistência de morte, «morte singular»para os egípcios que
apesar da praga dos primogênitos, se esquecem de ter pedido perdão aos
Israelitas, de tê-los feito partir e os perseguem. Esquecer as coisas passadas
permite o mal e, sem que se dê conta, faz tomar extremas decisões erradas,
assim enquanto os egípcios são submersos, os israelitas passam o mar, para eles
se abre uma planície larga, rica de ervas e árvores frutíferas e se tomam conta
da ajuda do Senhor.
Nos vv 6-12 existe uma releitura de
Gênesis que fala da criação. É uma recordação do passado com um olhar no
futuro: o Senhor cede a criação ao seu desígnio, então, para tornar belo o caos
do mundo, para chegar a uma criação renovada e transfigurada. Todos os dias o
Senhor nos atinge com a beleza divina e com a força da vida e, através da
criação e as vicissitudes que nos acontece, nos liberta.
I vv 13-17 nos leva a uma reflexão:
como os egípcios nunca reconheceram a visita do Senhor e mais uma vez se
endureceram? Porque odeiam os estrangeiros, os hebreus, que adoram um Deus que
acolhe todos. Israel segundo o coração de Deus, é intercessão para o mundo,
pensa à criação, não deveria jamais haver ódio pelo estrangeiro porque ninguém
é estrangeiro para o Senhor e o espírito incorruptível de Deus está em cada
criatura, em nós assim como no último refugiado que bate à porta. Segundo o
autor, a incapacidade dos egípcios para acolher os estrangeiros, que antes
tinham beneficiado e que tinham sido uma providência para o Egito, os queriam
oprimir com trabalhos pesados e reduzí-los como animais, é pecado mais grave do
que o de Sodoma. O efeito deste pecado é a morte de quem odeia: torna os
egípcios cegos à vista de Deus e para a salvação que está operando; não vêm a
criação que se transforma e nela a presença do Senhor. Em tudo isto, ao
contrário, os justos vêm bem, com os olhos de quem se apercebe que o Senhor
acompanha e acompanhará. São passados através de todas as forças da natureza
(fogo, água, animais...), o saíram não por seus méritos, mas porque em todos os
modos Deus torna glorioso o seu povo que assiste em todos os lugares e
momentos.
Deus faz saltar as leis da natureza
para fazermos graça, para que continuemos a celebrar a beleza do seu amor
misericordioso, para que guardemos a criação sentido-nos hóspedesdo mundo,
sentindo que o Senhor tem os olhos sobre nós para levar-nos a ele, para que
advertimos a sua graça no nosso coração, na mente, na consciência, nos nossos
afetos, nos pensamentos, nas relações. Para celebrar os louvores da Sabedoria.
Vincenza
Senhor Jesus, suscita santos. És tu
que salvas as almas, que as inundas de luz divina, que vivificas à vida divina.
Também a nós concedes o desejo de ser instrumentos da tua luz, da tua caridade
divina no mundo, nas almas. Tu fazes os gênios, os cientistas que descobrem,
que revelam aos homens as sábias leis da natureza, que descobrem e revelam a
vida que ferve no universo que, tu Sabedoria, e Bondade, criastes para o homem.
Imerges as almas no teu preciosíssimo sangue, atrai-as ao teu coração, sobre a
tua cruz: cruz de amor que comprova o amor por ti e faz os santos. Meu Deus,
Trindade adorada, com a tua atividade divina mandas o fogo nas almas, o fogo
que queima, que purifica, que vivifica, e eles no crisol da tua caridade são
transformadas em ti. Tu o queres, tu dás às nossas almas a vontade ardorosa, no
deserto ardente. Vem, Senhor: une a ti as nossas almas. Enquanto estamos no
mundo faz que vivamos no teu coração, no silêncio divino da tua palavra em nós,
no silêncio da tua caridade que nos faz contigo uma só vida divina; na oração
tu nos tolhes a nós e ao mundo. Comprova a nossa fraqueza, tornas firme a nossa
vontade. Infundes no nosso coração a força suave do teu divino amor.(março 1965, CdA II, 43-44).
O exemplo de São Francisco:
Saudação às virtudes (FF 256-258).
Enquanto as outras virtudes são as senhoras, a Sabedoria é a rainha, porque com
ela teremos também as outras.
Para refletir.
- Hoje
estamos sob os poderes do mundo que buscam sensacionalismo para suscitar as
paixões no homem e para depois dominá-lo. Desta forma, tantos acontecimentos
naturais se tornam ainda mais trágicos. Somos também nós atacados pela ânsia
porque pensamos que devemos dominar a história e mudá-la com as nossas forças?
- Acreditamos ainda na providência eterna?
Pensamos que a sabedoria deste mundo e a coleção das informações sobre tudo
isto que acontece é o nosso poder e a arma no combater o mal no mundo?
- O que é a base da nossa razão e do nosso
juízo? É a sabedoria divina que nos ajuda a discernir a luz das trevas e nos
faz caminhar na luz mesmo quando estamos nas trevas, ou nos confiamos no
julgamento deste mundo, fechado em mim mesmo e tenho medo do futuro?
- Procuramos perdoar a quem nos oprime?
Acreditamos que a noite da morte é também a noite do nascimento? Recordamos as
obras de Deus na nossa vida, na Igreja, no Instituto, ou nos tornamos escravas
do esquecimento que nos mantém ligadas nas trevas?
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