A Sabedoria é o revelar-se de Deus A terceira divisão do discurso nos ajuda a refletir sobre a
história dos homens de modo tal a decifrar quais são os constantes do agir de
Deus nos acontecimentos humanos. O critério determinante é o que é acontecido
na história da salvação, do qual o nosso mestre fala para nos fornecer
instrumentos de análise e de discernimento, em base aos quais possamos conhecer
como Deus se revela sempre e por toda a parte. Mesmo se os personagens dos
quais se fala são reconhecíveis não se cita jamais um nome próprio, para dizer
que aquele acontecimento é universal, é revelado para a obra da salvação do
povo de Israel até a um acontecimento que já é ecumênica, quemacredita é aquele
que vê a obra de Deus em toda parte, não só em si, mas no outro e crê que mesmo
que não pertença ao povo de Deus é visitado pela Sabedoria.
Seis etapas para chegar à sétima cujo
personagem nos envia a uma volta à história da salvação que, para o nosso
mestre, adquire um acontecimento de muito valor recapitulador de tudo: este
personagem é Moisés e o acontecimento recapitulador é a Páscoa, a travessia do
mar, do deserto, tudo aquilo juntos, de acontecimentos que assinalam de modo
indelével o nascimento do povo de Deus.
Adão Ela (a Sabedoria) protegeu o pai do mundo, o primeiro homem
formado por Deus, quando foi criado sozinho; depois o libertou da sua queda e
lhe deu a força para dominar sobre todas as coisas:Adão experimenta o pecado com todas as graves consequências, que
são: o compromisso com o relacionamento com Deus, com a mulher que Deus lhe
tinha colocado ao lado, com a criação. Neste sofrimento a Sabedoria reergue
Adão oprimido pela fadiga.
Caim e Noè Mas um injusto, (Caim) distanciando-se dela (Sabedoria), na sua
cólera pereceu na sua própria ira fratricida. Por causa dele, a terra foi
inundada (pelo dilúvio), mas a Sabedoria de novo o salvou, conduzindo o justo
(Noé) por meio de uma frágil embarcação.
A história humana é levada pelos efeitos
desastrosos da violência dos quais Caim é o símbolo exemplar, mas nesta ruína
catastrófica a Sabedoria gera um justo que, em escuta e em obediência à Palavra,
com um simples lenho desproporcionado ao dilúvio, se torna instrumento de
salvação. Mais uma vez os caminhos da Sabedoria são diferentes dos outros
caminhos.
Abraão Quando as nações aderiram à maldade e foram confundidas, (torre
de Babel), ela reconheceu o Justo (Abrão) e o conservou sem mancha diante de
Deus e o manteve forte, apesar da sua ternura pelo filho. Abraão é
reconhecido justo pelo seu relacionamento e abertura ao mistério que guia a sua
consciência a maturar escolhas segundo o coração de Deus. Colocado duramente à
prova, pelo pedido em sacrifício do seu único filho, fica salvo na confiança à
voz que guiou a sua vida.
Ló E enquanto os ímpios pereciam, ela salvou um justo (Ló) que fugia
diante do fogo que caía sobre cinco cidades (Sodoma, Gomorra e as outras
cidades). Como testemunho dessa gente perversa, resta ainda uma terra deserta e
fumegante, junto com árvores de frutos que não amadurecem, e a estátua de sal
que se ergue como lembrança de uma alma incrédula (a mulher de Ló). Porque
desprezando a Sabedoria, não só se prejudicaram ignorando o bem (as filhas de Ló;
o incesto), mas deixaram para os insensatos uma lembrança de sua insensatez,
para que suas faltas não ficassem escondidas.
A cena é trágica, uma falência
clamorosa, uma impiedade monstruosa que foi atribuída às cidades nas quais Ló
morava, com o envolvimento das suas próprias filhas; outra vez, um outro
caminho se abre, no sentido que recordar a monstruosidade daqueles
acontecimentos adquire um valor pedagógico.
Jacó Masa sabedoria libertou os seus fiéis dos seus sofrimentos: ela
conduziu por caminhos planos o justo (Jacó) que fugia da ira do irmão (Esaú),
lhe mostrou o reino de Deus e lhe dá o conhecimento das coisas santas; lhe dá
sucesso nas suas fadigas e multiplicou os frutos do seu trabalho. O protegeu
contra a avareza dos seus adversários e o fez rico; o guardou dos seus
inimigos, o protegeu de quem o armava ciladas, deu-lhe a vitória numa luta
dura, para lhe mostrar que a piedade é mais forte do que tudo.
Jacó envolvido em vicissitudes
trágicas, aprendeu na escola da Sabedoria de Deus a humildade do retorno que
lhe faz sentir o peso da sua história, o reconcilia com o irmão porque a
piedade é mais forte do que tudo.
José Ela não abandonou o justo que tinha sido vendido (José), mas o
preservou do pecado. Desceu com ele à cisterna, não o abandonou enquanto estava
preso, até conseguir para ele o cetro real e o poder sobre seus próprios
adversários, desmascarou os que o caluniavam e lhe deu fama perene.
José é exposto às situações mais
desagradáveis, é maltratado, desprezado, feito escravo, jogado na prisão e a
Sabedoria com ele.Dentro desta sua aventura tão amarga e dolorosa, veem
desmascaradas as ciladas. José, educado na escola da Sabedoria, aprende a
reconhecer como se abrem caminhos mesmolá onde os acontecimentos assumem uma
fisionomia totalmente mortificante.
Moisés A Sabedoria libertou um povo santo e uma estirpe sem mancha de uma
nação de opressores. Ela entrou na alma de um servo do Senhor e se opôs com
prodígios e com sinais ao terrível rei. Deu aos santos a recompensa das suas
penas, e os guiou por um caminho maravilhoso, tornou-se para eles abrigo
durante o dia e luz de estrelas durante a noite. Ela os fez atravessar o Mar
Vermelhoe os guiou através de águas impetuosas; fez com que seus inimigosse
afogassem e depoisjogou-os no fundo do mar (pelos quais
os cadáveres dos egípcios, como se lê no cântico, foram jogados na beira do
mar). Desse modo os justos despojaram os ímpios e celebraram o Senhor, o teu
santo nome e louvaram unânimes a tua mão poderosa, porque a Sabedoria abriu a
boca dos mudos e soltou a língua dos pequeninos.
A iniciativa de Deus é revelada de
modo tal a formar um povo lá onde era uma massa de gente oprimida, esmagada,
sem dignidade e sem identidade. Este povo conduzido para fora do Egito por
longas estradas maravilhosas, amadurece na celebração de louvor, o grande canto
de vitória.
O Êxodo, acontecimento exemplar: a
vicissitude de um mundo pagão se torna história da salvação.
Introdução aos cinco paralelismos Nos cap. 11-19 segue um discurso elogiativoà Sabedoria através dos
paralelismos que colocam em confronto a resposta dos justos e dos ímpios: a
resposta do povo de Deus que teve o privilégio de conhecer e de experimentar a
misericórdia divina, a opera na história do povo egípcio que, inclinado à
idolatria e corrupção se opõe ao autêntico conhecimento de Deus. Nos próximos
capítulos o autor coloca em paralelo
sete catástrofes que se abateram sobre os egípcios e sobre os homens do
faraó no momento dasaída do Egito e sete benefícios que o Senhor combinou com
os hebreus durante a sua saída do Egito e no deserto, ressaltando a sua
capacidade escatológica: os acontecimentos que ocorreram nas origens de Israel
manifestaram o julgamento de Deus e desde então prefiguram como o Senhor
julgará, no fim da história os justos e os ímpios(cfr. Gilbert, A Sabedoria
de Salomão).
Aquilo que aconteceu se torna uma
chave para entender o sentido de todos os outros acontecimentos da história
humana. Fornece para nós um critério interpretativo,ao qual sempre devemos
recorrer, que são as situações originais que pouco a pouco, no curso da
história humana, precisará enfrentar.
O primeiro paralelismo: - Água do
Nilo e água na rocha.
Ler: Sabedoria, cap. 11, 1-14
Primeira estrofe:vv 1-5: Ela (a
Sabedoria) levou a bom termo os empreendimentos do povo por meio de um santo
profeta (Moisés): atravessaram um deserto desabitado, armaram as tendas em
terrenos inacessíveis, resistiram aos adversários, repeliram os inimigos.
Quando tiveram sede, te invocaram e
foi dada a eles água de uma rocha escarpada, uma pedra dura lhes matou a sede.
Aquilo que tinha servido como castigo para seus inimigos, na necessidade foi
para eles um benefício.
Nesta primeira estrofe vem
enunciado o princípio geral que o nosso mestre quer colocar em evidência como
critério interpretativo de tudo aquilo que acontece na história humana: existe
um misterioso contrapasso pelo qual o elemento que pune pode se tornar elemento
que salva: neste caso se trata da água que brota da rocha, para aqueles que
estão em viagem através do deserto, e da água apodrecida do rio Nilo, para os
egípcios. A água que é motivo de desolação terrível para os egípcios sedento, é
a água que jorra da rocha para saciar a sede dos hebreus no deserto.
Segunda estrofevv 6-10. Em lugar da água corrente de um rio perene (o
Nilo), assolado por sangue podre em punição de um decreto infanticida: o
Nilo era servido para levar,arrastados pelas águas, todos os recém-nascidos
machos dos hebreus; tu lhes deste inesperadamente água abundante, mostrando
pela sede que estavam sentindo, como tinhas punido os seus adversários. De
fato, colocados à prova, embora fossem punidos com misericórdia, compreenderam
os tormentos que tinham sofrido os ímpios que eram julgados com cólera, porque
tu os provaste como pai que corrige, e castigaste os outros como rei severo que
condena.
Precedentemente o autor dizia, na
exposição geral: “o elemento (água) que serve para punir, serve para salvar;
então reforçando este princípio, diz: “aqueles que foram salvos pela água,
estão em grau de compreender a pena sofrida por aqueles que foram punidos: se
estabelece assim uma comunhão entre uns e outros”.
Terceira estrofe, do v. 11 ao v. 14: Longe ou perto, foram igualmente
atribulados, porque uma dúplice aflição os oprimiu. E choraram, lembrando-se do
que lhes acontecera. De fato, quando ficaram sabendo que o castigo era fonte de
beneficio para os outros, sentiram a presença do Senhor. Pois aquele que
outrora fora rejeitado, exposto e desprezado com zombarias (Moisés), no fim dos
acontecimentos foi admirado por eles, quando estavam sofrendo uma sede
diferente da sede dos justos.
A sede que os egípcios sofreram no
curso da sua história se torna motivo para maravilhar-se quando se dão conta de
que para os hebreus no deserto a água é motivo de benção. Os dois
acontecimentos são interligados pelos quais a mesma água, com a qual se poderia
atingir a mesma sede, para os egípcios é motivo de dor inconsolável, para os
hebreus é motivo de saciedade benéfica.
Mas agora os hebreus, em virtude da
sede que sofreram no deserto, entenderam os egípcios; e os egípcios, em virtude
da sua sede e através da experiência de uma desgraça inconsolável, ficaram em
grau de descobrir que existia uma novidade que protegia os hebreus. Tomou vida
um processo de redenção dolorosa que os envolveu no íntimo mais profundo pelo
qual o seu castigo apareceu inseparável daquilo que foi o benefício para os
outros.
A dor se manifesta sempre como
pesar por aquele que deveria vir e não veio, aquele que se anunciava e que ao
contrário assumiu uma fisionomia desastrosa. É uma dor interna que, através da
experiência negativa em curso, reelabora motivos profundos de compunção e de
repensar sobretudo o que aconteceu no curso de uma vida e de uma história. Tudo
aquilo que é experimentado como motivo de sofrimento, dificuldade, tribulação,
é instrumento dócil que, na obra de Deus, em obediência à sua Sabedoria, se
torna instrumento de salvação, de redenção, de vida nova.
Através da Sabedoria o nosso mestre
nos quer ajudar a discernir quais são as constantes do agir de Deus na história
humana, o seu modo de revelar-se e de estar presente e operante, deste modo a
abrir aquelas estradas, as quais percorrendo, os homens são reconduzidos à
plenitude da vida: o caminho de conversão à vida, para aqueles que perderam o
contato com aquela origem; o caminho da reeducação à vida, para aqueles que
entenderam mal a própria vocação.
Vincenza
“O Espírito de Deus gera no homem a
sabedoria. A sabedoria dá ao homem o conhecimento que move o homem para Deus,
sua vida. Bem-Aventurado o homem, diz Jesus, que tem fome e sede de justiça,
porque será saciado. Deus é justiça. A fome e a sede de justiça é fome e sede
de Deus. A razão humana não entende esta fome e esta sede. É lógico. A razão
humana não é a sabedoria do Espírito de Deus e não pode ir além dos seus
limites humanos. Mas Bem-Aventurado quem tem aquela fome, aquela sede de
justiça produzida pela sabedoria do Espírito Santo” (CdA II, 84-85).
Da Primeira vida de Tomás de Celano
«O Senhor lhe tinha dado sabedoria e
eloquência, e ele se o servia para combater e confundir os inimigos da verdade
e da Cruz de Cristo, reconduzir os errantes para o caminho reto, recompor a contestação
e consolidar o vínculo da caridade entre os irmãos” (FF 493).
Para refletir:
- Como leio a revelação de Deus na minha
históriapessoal?
- Com quais contrapassos Deus se manifesta hoje
na história humana?
- Oque a Sabedoria me convida neste momento da
história do Instituto?
-As minhas escolhas se tornam uma benção para
mim e para o mundo inteiro?
Nenhum comentário:
Postar um comentário