domingo, 26 de abril de 2020

6º tema: A ação da Sabedoria na história Ler: Sabedoria, cap. 10


A Sabedoria é o revelar-se de Deus                                                                           A terceira divisão do discurso nos ajuda a refletir sobre a história dos homens de modo tal a decifrar quais são os constantes do agir de Deus nos acontecimentos humanos. O critério determinante é o que é acontecido na história da salvação, do qual o nosso mestre fala para nos fornecer instrumentos de análise e de discernimento, em base aos quais possamos conhecer como Deus se revela sempre e por toda a parte. Mesmo se os personagens dos quais se fala são reconhecíveis não se cita jamais um nome próprio, para dizer que aquele acontecimento é universal, é revelado para a obra da salvação do povo de Israel até a um acontecimento que já é ecumênica, quemacredita é aquele que vê a obra de Deus em toda parte, não só em si, mas no outro e crê que mesmo que não pertença ao povo de Deus é visitado pela Sabedoria.

Seis etapas para chegar à sétima cujo personagem nos envia a uma volta à história da salvação que, para o nosso mestre, adquire um acontecimento de muito valor recapitulador de tudo: este personagem é Moisés e o acontecimento recapitulador é a Páscoa, a travessia do mar, do deserto, tudo aquilo juntos, de acontecimentos que assinalam de modo indelével o nascimento do povo de Deus.

Adão                                                                                                                   Ela (a Sabedoria) protegeu o pai do mundo, o primeiro homem formado por Deus, quando foi criado sozinho; depois o libertou da sua queda e lhe deu a força para dominar sobre todas as coisas:Adão experimenta o pecado com todas as graves consequências, que são: o compromisso com o relacionamento com Deus, com a mulher que Deus lhe tinha colocado ao lado, com a criação. Neste sofrimento a Sabedoria reergue Adão oprimido pela fadiga.

Caim e Noè                                                                                               Mas um injusto, (Caim) distanciando-se dela (Sabedoria), na sua cólera pereceu na sua própria ira fratricida. Por causa dele, a terra foi inundada (pelo dilúvio), mas a Sabedoria de novo o salvou, conduzindo o justo (Noé) por meio de uma frágil embarcação.

A história humana é levada pelos efeitos desastrosos da violência dos quais Caim é o símbolo exemplar, mas nesta ruína catastrófica a Sabedoria gera um justo que, em escuta e em obediência à Palavra, com um simples lenho desproporcionado ao dilúvio, se torna instrumento de salvação. Mais uma vez os caminhos da Sabedoria são diferentes dos outros caminhos.

Abraão                                                                                                      Quando as nações aderiram à maldade e foram confundidas, (torre de Babel), ela reconheceu o Justo (Abrão) e o conservou sem mancha diante de Deus e o manteve forte, apesar da sua ternura pelo filho. Abraão é reconhecido justo pelo seu relacionamento e abertura ao mistério que guia a sua consciência a maturar escolhas segundo o coração de Deus. Colocado duramente à prova, pelo pedido em sacrifício do seu único filho, fica salvo na confiança à voz que guiou a sua vida.

                                                                                                                       E enquanto os ímpios pereciam, ela salvou um justo (Ló) que fugia diante do fogo que caía sobre cinco cidades (Sodoma, Gomorra e as outras cidades). Como testemunho dessa gente perversa, resta ainda uma terra deserta e fumegante, junto com árvores de frutos que não amadurecem, e a estátua de sal que se ergue como lembrança de uma alma incrédula (a mulher de Ló). Porque desprezando a Sabedoria, não só se prejudicaram ignorando o bem (as filhas de Ló; o incesto), mas deixaram para os insensatos uma lembrança de sua insensatez, para que suas faltas não ficassem escondidas.

A cena é trágica, uma falência clamorosa, uma impiedade monstruosa que foi atribuída às cidades nas quais Ló morava, com o envolvimento das suas próprias filhas; outra vez, um outro caminho se abre, no sentido que recordar a monstruosidade daqueles acontecimentos adquire um valor pedagógico.

Jacó                                                                                                Masa sabedoria libertou os seus fiéis dos seus sofrimentos: ela conduziu por caminhos planos o justo (Jacó) que fugia da ira do irmão (Esaú), lhe mostrou o reino de Deus e lhe dá o conhecimento das coisas santas; lhe dá sucesso nas suas fadigas e multiplicou os frutos do seu trabalho. O protegeu contra a avareza dos seus adversários e o fez rico; o guardou dos seus inimigos, o protegeu de quem o armava ciladas, deu-lhe a vitória numa luta dura, para lhe mostrar que a piedade é mais forte do que tudo.

Jacó envolvido em vicissitudes trágicas, aprendeu na escola da Sabedoria de Deus a humildade do retorno que lhe faz sentir o peso da sua história, o reconcilia com o irmão porque a piedade é mais forte do que tudo.

José                                                                                                                   Ela não abandonou o justo que tinha sido vendido (José), mas o preservou do pecado. Desceu com ele à cisterna, não o abandonou enquanto estava preso, até conseguir para ele o cetro real e o poder sobre seus próprios adversários, desmascarou os que o caluniavam e lhe deu fama perene.

José é exposto às situações mais desagradáveis, é maltratado, desprezado, feito escravo, jogado na prisão e a Sabedoria com ele.Dentro desta sua aventura tão amarga e dolorosa, veem desmascaradas as ciladas. José, educado na escola da Sabedoria, aprende a reconhecer como se abrem caminhos mesmolá onde os acontecimentos assumem uma fisionomia totalmente mortificante.

Moisés                                                                                                      A Sabedoria libertou um povo santo e uma estirpe sem mancha de uma nação de opressores. Ela entrou na alma de um servo do Senhor e se opôs com prodígios e com sinais ao terrível rei. Deu aos santos a recompensa das suas penas, e os guiou por um caminho maravilhoso, tornou-se para eles abrigo durante o dia e luz de estrelas durante a noite. Ela os fez atravessar o Mar Vermelhoe os guiou através de águas impetuosas; fez com que seus inimigosse afogassem e depoisjogou-os no fundo do mar (pelos quais os cadáveres dos egípcios, como se lê no cântico, foram jogados na beira do mar). Desse modo os justos despojaram os ímpios e celebraram o Senhor, o teu santo nome e louvaram unânimes a tua mão poderosa, porque a Sabedoria abriu a boca dos mudos e soltou a língua dos pequeninos.

A iniciativa de Deus é revelada de modo tal a formar um povo lá onde era uma massa de gente oprimida, esmagada, sem dignidade e sem identidade. Este povo conduzido para fora do Egito por longas estradas maravilhosas, amadurece na celebração de louvor, o grande canto de vitória.

O Êxodo, acontecimento exemplar: a vicissitude de um mundo pagão se torna história da salvação.

Introdução aos cinco paralelismos                                                         Nos cap. 11-19 segue um discurso elogiativoà Sabedoria através dos paralelismos que colocam em confronto a resposta dos justos e dos ímpios: a resposta do povo de Deus que teve o privilégio de conhecer e de experimentar a misericórdia divina, a opera na história do povo egípcio que, inclinado à idolatria e corrupção se opõe ao autêntico conhecimento de Deus. Nos próximos capítulos o autor coloca em paralelo  sete catástrofes que se abateram sobre os egípcios e sobre os homens do faraó no momento dasaída do Egito e sete benefícios que o Senhor combinou com os hebreus durante a sua saída do Egito e no deserto, ressaltando a sua capacidade escatológica: os acontecimentos que ocorreram nas origens de Israel manifestaram o julgamento de Deus e desde então prefiguram como o Senhor julgará, no fim da história os justos e os ímpios(cfr. Gilbert, A Sabedoria de Salomão).

Aquilo que aconteceu se torna uma chave para entender o sentido de todos os outros acontecimentos da história humana. Fornece para nós um critério interpretativo,ao qual sempre devemos recorrer, que são as situações originais que pouco a pouco, no curso da história humana, precisará enfrentar.

O primeiro paralelismo: - Água do Nilo e água na rocha.

Ler: Sabedoria, cap. 11, 1-14

Primeira estrofe:vv 1-5: Ela (a Sabedoria) levou a bom termo os empreendimentos do povo por meio de um santo profeta (Moisés): atravessaram um deserto desabitado, armaram as tendas em terrenos inacessíveis, resistiram aos adversários, repeliram os inimigos.

Quando tiveram sede, te invocaram e foi dada a eles água de uma rocha escarpada, uma pedra dura lhes matou a sede. Aquilo que tinha servido como castigo para seus inimigos, na necessidade foi para eles um benefício.

Nesta primeira estrofe vem enunciado o princípio geral que o nosso mestre quer colocar em evidência como critério interpretativo de tudo aquilo que acontece na história humana: existe um misterioso contrapasso pelo qual o elemento que pune pode se tornar elemento que salva: neste caso se trata da água que brota da rocha, para aqueles que estão em viagem através do deserto, e da água apodrecida do rio Nilo, para os egípcios. A água que é motivo de desolação terrível para os egípcios sedento, é a água que jorra da rocha para saciar a sede dos hebreus no deserto.

Segunda estrofevv 6-10. Em lugar da água corrente de um rio perene (o Nilo), assolado por sangue podre em punição de um decreto infanticida: o Nilo era servido para levar,arrastados pelas águas, todos os recém-nascidos machos dos hebreus; tu lhes deste inesperadamente água abundante, mostrando pela sede que estavam sentindo, como tinhas punido os seus adversários. De fato, colocados à prova, embora fossem punidos com misericórdia, compreenderam os tormentos que tinham sofrido os ímpios que eram julgados com cólera, porque tu os provaste como pai que corrige, e castigaste os outros como rei severo que condena.

Precedentemente o autor dizia, na exposição geral: “o elemento (água) que serve para punir, serve para salvar; então reforçando este princípio, diz: “aqueles que foram salvos pela água, estão em grau de compreender a pena sofrida por aqueles que foram punidos: se estabelece assim uma comunhão entre uns e outros”.

Terceira estrofe, do v. 11 ao v. 14: Longe ou perto, foram igualmente atribulados, porque uma dúplice aflição os oprimiu. E choraram, lembrando-se do que lhes acontecera. De fato, quando ficaram sabendo que o castigo era fonte de beneficio para os outros, sentiram a presença do Senhor. Pois aquele que outrora fora rejeitado, exposto e desprezado com zombarias (Moisés), no fim dos acontecimentos foi admirado por eles, quando estavam sofrendo uma sede diferente da sede dos justos.

A sede que os egípcios sofreram no curso da sua história se torna motivo para maravilhar-se quando se dão conta de que para os hebreus no deserto a água é motivo de benção. Os dois acontecimentos são interligados pelos quais a mesma água, com a qual se poderia atingir a mesma sede, para os egípcios é motivo de dor inconsolável, para os hebreus é motivo de saciedade benéfica.

Mas agora os hebreus, em virtude da sede que sofreram no deserto, entenderam os egípcios; e os egípcios, em virtude da sua sede e através da experiência de uma desgraça inconsolável, ficaram em grau de descobrir que existia uma novidade que protegia os hebreus. Tomou vida um processo de redenção dolorosa que os envolveu no íntimo mais profundo pelo qual o seu castigo apareceu inseparável daquilo que foi o benefício para os outros.

A dor se manifesta sempre como pesar por aquele que deveria vir e não veio, aquele que se anunciava e que ao contrário assumiu uma fisionomia desastrosa. É uma dor interna que, através da experiência negativa em curso, reelabora motivos profundos de compunção e de repensar sobretudo o que aconteceu no curso de uma vida e de uma história. Tudo aquilo que é experimentado como motivo de sofrimento, dificuldade, tribulação, é instrumento dócil que, na obra de Deus, em obediência à sua Sabedoria, se torna instrumento de salvação, de redenção, de vida nova.

Através da Sabedoria o nosso mestre nos quer ajudar a discernir quais são as constantes do agir de Deus na história humana, o seu modo de revelar-se e de estar presente e operante, deste modo a abrir aquelas estradas, as quais percorrendo, os homens são reconduzidos à plenitude da vida: o caminho de conversão à vida, para aqueles que perderam o contato com aquela origem; o caminho da reeducação à vida, para aqueles que entenderam mal a própria vocação.

Vincenza

“O Espírito de Deus gera no homem a sabedoria. A sabedoria dá ao homem o conhecimento que move o homem para Deus, sua vida. Bem-Aventurado o homem, diz Jesus, que tem fome e sede de justiça, porque será saciado. Deus é justiça. A fome e a sede de justiça é fome e sede de Deus. A razão humana não entende esta fome e esta sede. É lógico. A razão humana não é a sabedoria do Espírito de Deus e não pode ir além dos seus limites humanos. Mas Bem-Aventurado quem tem aquela fome, aquela sede de justiça produzida pela sabedoria do Espírito Santo” (CdA II, 84-85).

Da Primeira vida de Tomás de Celano

«O Senhor lhe tinha dado sabedoria e eloquência, e ele se o servia para combater e confundir os inimigos da verdade e da Cruz de Cristo, reconduzir os errantes para o caminho reto, recompor a contestação e consolidar o vínculo da caridade entre os irmãos” (FF 493).

Para refletir:

- Como leio a revelação de Deus na minha históriapessoal?

- Com quais contrapassos Deus se manifesta hoje na história humana?

- Oque a Sabedoria me convida neste momento da história do Instituto?

-As minhas escolhas se tornam uma benção para mim e para o mundo inteiro?

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