segunda-feira, 27 de abril de 2020

1º TEMA: -NO ÍNTIMO DOS CORAÇÕES E NA HISTÓRIA DEUS SE REVELA E CHAMA O HOMEM A ABRIR-SE AO SEU MISTÉRIO.


Ler:  Sabedoria - Capítulo 1,1-16

O HOMEM É CHAMADO À VIDA

Na tradição sapiencial, ao longo dos séculos, o termo "sabedoria" nem sempre significou a mesma coisa; podem-se reconhecer dois momentos fundamentais não rigidamente separados entre eles. Há um período arcaico no qual a "sabedoria" é entendida como algo semelhante ao que hoje chamaríamos de "qualidade da vida humana", isto é, a capacidade de viver bem e viver bem nos relacionamentos, porque a vida envolve relações. Qualidade de vida é saber agir com perícia, de maneira positiva com as coisas, com o mundo, com os acontecimentos, com os outros, com o passado, com o futuro, com aquilo que é visível e, portanto, externo, e com o que é invisível, interno à realidade, de toda pessoa humana. O sábio neste caso, não é um especialista, mas é toda pessoa que lida com aquela realidade complexa e misteriosa que é a sua vocação à vida. O que quer dizer viver? Como se faz para viver? A sabedoria é entendida como busca por instrumentos válidos para operar na realidade. No ambiente da vida cotidiana, os contextos primários são a família e aquele propriamente escolar, entendido como local dedicado à busca da sabedoria.

                A corte, onde há um rei, também é uma escola sapiencial porque o rei é um personagem que é investido ao máximo da responsabilidade em relação à busca por aqueles caminhos que necessitam percorrer para viver bem e fazer os outros viverem bem.

Sabedoria é também a capacidade de dialogar com o mistério, porque a realidade ainda é misteriosa e, mesmo si se cava em profundidade, permanece indecifrável, além de qualquer tentativa de posse, de ocupação, de instrumentalização. Sábio é aquele que vive no mundo não como se fosse dono, mas considerando isso como realidade gratuitamente doada, que traz consigo uma riqueza extraordinária.

                O princípio da sabedoria é o temor do Senhor, é o versículo que atua como um programa a toda a busca sapiencial do primeiro período. A Sabedoria é fundamentada no temor do Senhor que não é consternação, nem medo ou terror, mas é a abertura do coração humano à misteriosa presença que tudo contém; que é origem de tudo e que é a fonte daquela vocação à vida a qual ninguém pode responder se não for educado na sabedoria.          

                Com o tempo, a "sabedoria" assume um significado diverso, conservando certa continuidade. Gradualmente, quando se diz "Sabedoria", na linguagem bíblica, se entende de modo sempre mais preciso a revelação que manifesta a iniciativa livre e gratuita de Deus: - "Sabedoria" é o revelar-se de Deus.

                A qualidade da vida está, portanto, em aprender a acolher o mistério de Deus que se revela na gratuidade, na ordem da criação, nos acontecimentos da história, na intimidade das consciências, nos segredos que estão ocultos no íntimo de cada pessoa humana. A vocação à vida é um compromisso ao qual aderimos de modo sempre mais consciente e maduro, à medida que tomamos consciência de como estamos imersos no revelar-se do mistério de Deus.

Reeducar a consciência

Em Sab. 1,1-5, há um convite aos governantes para amar a justiça. Não é plausível que um judeu do 1º século a.C. realmente pretendesse dirigir-se aos reis de toda a terra, pelo menos do então conhecido. A exortação aos governantes têm na realidade, duplo objetivo: - 1) Falar aos jovens hebreus de Alexandria, que deveriam ser educados sobre suas futuras responsabilidades para com a sociedade; -  2) lembrar a todos que, se o ditado da filosofia então dominante valesse a pena, para o qual  “todo rei deve ser sábio, mas também que todo sábio é como um rei”, então não precisaria de um título político para ser pessoa importante: seria suficiente ser sábio. A vida de todo homem, mesmo do homem mais simples e oculto deste mundo, adquire prerrogativas quando é educado na escola de sabedoria. A realeza é do sábio.

À PROCURA PELO DEUS DA VIDA

A sabedoria anda de mãos dadas com o amor pela justiça, mas não apenas.    A justiça deve ser acompanhada pela capacidade de buscar o Senhor, de pensar nele com alma simples e bem  disposta, aberta interiormente para recebê-lo. O Seu revelar-se interpela o íntimo da consciência, do coração, da experiência humana. Quem é chamado à responsabilidade política deve saber unir, a paixão pela justiça, com a capacidade de se colocar em busca de Deus, descobrindo que Ele se deixa encontrar por aqueles que O procuram. O Senhor está em nosso meio, sim ou não? (Ex 17,7). A esta grave e atual pergunta, parece responder o autor: “sim, o Senhor está perto a quem estiver disposto a encontrá-lo. ”

O MESTRE MAIS IMPORTANTE QUE PREENCHE O UNIVERSO

                O v.. 5 introduz ao lado da sabedoria uma figura nova: o Espírito Santo que ensina. O espírito de Deus é uma figura bem conhecida na Bíblia de Israel: é a atividade divina nos confrontos da humanidade, realidade que no Novo Testamento, se revelará como Pessoa. Aqui se trata do espírito da educação, um conceito apreciado pela cultura grega: a educação é o complexo dos valores oferecidos ao jovem para sua formação e seu crescimento. Para o autor da Sabedoria, o espírito de Deus é o mestre mais competente e a sabedoria de Deus revelando-se, faz de cada pequena criatura humana, como nós somos: um sábio, um rei, um homem que habita no mundo.

                Prosseguindo na leitura do primeiro capítulo, o nosso sábio se revela particularmente corajoso quando afirma que ‘o espírito do Senhor preenche a terra, é Ele quem mantém juntas todas as coisas, conhece cada voz’.               

Usando a linguagem própria da corrente filosófica estoica, então dominante, para a qual não há um Deus pessoal e o mundo é um todo animado pelo espírito de um deus que está em todas as coisas e todas de qualquer modo  são divinas (fala-se de panteísmo); o autor de Sabedoria afirma claramente que o Deus da Bíblia preenche o universo, mas não se mistura a ele. O Criador está presente em suas criaturas, mas permanecendo distinto delas.      Nestes versículos, há também um apelo insistente contra as murmurações, as calúnias e as mentiras, um tema clássico na literatura sapiencial; a palavra é sempre trâmite entre o íntimo do homem e o mundo.

Entre as dobras do mundo: morte ou salvação?

                O primeiro capítulo se fecha com uma nota muito positiva: o Deus da Bíblia é o Deus da vida (vv13-15): Deus não criou a morte! O anúncio do autor é quase alegre: Deus criou para a vida e no universo tudo é funcional para a vida. Nisto está a beleza da criação e isso nos permite sempre, de fato, exige-nos, guardar a bondade que é prerrogativa de toda criatura que pertence a Deus.

                Mas, se a morte não faz parte do projeto de Deus, se tudo foi criado para a existência, de onde vem a morte? O autor dará uma resposta no próximo capítulo: a morte é uma intrusa que nasce do pecado. Aqui nos interessa ​​o fato de que a criação é portadora da salvação e nas coisas criadas não há nenhum sinal de morte, nem o reino dos mortos tem poder sobre a terra. É a justiça de Deus que oferece ao mundo e aos seres humanos uma vida sem fim. Portanto, a missão do sábio é levar à humanidade uma visão positiva do cosmo: a morte não tem a última palavra e os elementos do cosmo fazem parte do designo de salvação que Deus tem para o mundo inteiro.

                Hoje, diante da visão do mundo que nasce de uma proposta científica e racional, parece haver pouco espaço para as palavras deste velho sábio hebreu. No entanto, a missão do crente permanece basicamente a mesma: fazer que os homens vislumbrem, entre as dobras de um mundo no qual a morte sempre parece ter a última palavra, os vestígios de um Deus pela vida, que criou tudo para a existência.

Acolher o convite deste primeiro capítulo do livro da Sabedoria deve ser um programa, um projeto de vida.  A morte está na duplicidade do coração humano que sufoca e não se abre à Presença que se revela. A morte está onde se constroem situações circunscritas, confinadas, ‘glotizadas’, sufocantes que se tornam verdadeiros locais de escravidão, de prisão, de morte: lugares onde não se vive.

Vincenza

Filhas minhas, espalhadas por todo o mundo, por vocês falo ao coração de todos os homens, na urgência da realidade divina de Jesus vivo no meio do mundo, que só pode vivificar em Deus as realidades humanas. O coração puro do mundo vê Jesus, Deus - Homem. O homem, feito o coração do mundo, puro: verá Deus.   Verás a verdade, a justiça, o amor, a vida. Verás que acima de todos os bens humanos e terrenos existe Ele, o Senhor, o Amor, que contém tudo e tudo dá. Dá a vocês o humano e o divino. Verás o valor da sua vida de homem feito para ser homem em Cristo Jesus (II CdA de março de 1972).

Para refletir:

Se a Sabedoria é antes de tudo o sinal da presença de Deus dentro da alma humana, como nos colocar hoje diante de um mundo muitas vezes distante da fé cristã, pela cultura, pela sensibilidade, pelos valores éticos?

 Sabemos ser transparentes no comunicar com sinceridade como estamos vivendo o seguimento de Jesus?

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