Ler: Sabedoria, cap. 3
O autor do livro da Sabedoria nos
capítulos 3 e 4 propõe uma sequência de quadros que põem em contraste dois
grupos humanos, que nós, para entendê-los podemos definir "os justos"
e "os ímpios". Existem quatro pinturas, cada uma das quais, compostas
por dois elementos, e construídos de modo tal, a colocar em evidência o contraste
entre justos e ímpios; entre aqueles que escolhem a vida e aqueles que escolhem
a morte; entre aqueles que respondem à vocação à vida, a "sabedoria"
e aqueles que, ao contrário, permanecem inclinados a uma posição de rejeição em
relação ao revelar-se de Deus, retirando-se para um horizonte que é prisioneiro
da morte.
A morte dos justos é uma manifestação da vida (Sab 3, 1-9)
Há
uma aparência na morte dos justos, que deve ser atentamente examinada para
constatar como nela. o poder da vida se manifesta. “As almas dos justos, porém,
estão nas mãos de Deus, nenhum tormento as tocará. O discurso prossegue com
respeito ao versículo 24 do cap. 2. Mas a morte entrou no mundo pela inveja do
diabo; e a experimentam, aqueles que pertencem a ele”.
O
autor onde encontra a morte dos justos ressalta que, sobre a aparência, há uma
realidade que é revelação daquela vocação à vida que não é prisioneira da
morte; então os justos que morrem "estão em paz", plenitude de todos
aqueles dons que levam ao cumprimento a vocação à vida (“Deixo-vos paz, dou-vos
a minha paz. Não como o mundo a dá, eu voo-a dou”. Jo 14,27).
No
dia da visita eles resplandecerão. Essa luminosidade dos justos é acolhida com
grande emoção pelo autor: a aparência é aquela da morte, a realidade é aquela
da paz percebida na luminosidade que os justos, morrendo são capazes de emanar.
"No dia da visita", enquanto visitados por Deus, resplandecerão como
faíscas no restolho, correrão aqui e ali. Deus avança, mostra-se e confere o
que nos justos, é a aparência da morte a realidade de uma vida que corresponde
à sua intenção originária. Aqueles que lhe são fiéis viverão com Ele no amor,
instintivamente pensamos em um prêmio que será conferido a estes justos em
outro mundo, em outra história e em outra condição. Na realidade, o autor está falando daquela
vocação à vida que se realiza na história humana e nas coisas do mundo; lá onde
a aparência é morte, na realidade é a obra de Deus que avança e é o poder da
vocação à vida que os justos acolheram e que se expressa de maneira esmagadora
e vitoriosa.
A vida dos ímpios é escrava da morte - Sabedoria 3,10-12
Nos vv. 10-12: Mas os ímpios por
seus pensamentos receberão o castigo... não se fala do castigo que virá
"depois", mas da tristeza que é o esvaziamento da vida. É a
infelicidade da chamada vida dos ímpios, chamada porque, neste caso, é a vida
que é aparente; no caso precedente, era aparente a morte. A alternativa entre
ímpios e justos é sempre uma alternativa entre ímpios e a Sabedoria, o
revelar-se de Deus que vem, visita e opera. Quem despreza a Sabedoria e a
disciplina é infeliz. Vã é sua esperança e seu trabalho sem fruto, inúteis as
suas obras. As suas esposas são insensatas, maus os seus filhos, amaldiçoada
sua prole. Não se trata de invocar uma maldição sobre os ímpios aos quais os
iníquos não podem escapar. O autor nos ajuda a examinar mais em profundidade, a
ir além daquela aparência de vida próspera e rica, acompanhada de
reconhecimentos, aprovações e sucessos que, na realidade, é uma vida infeliz.
Na tribulação, o germe do futuro (Sab 3, 13-19)
Para discernir entre a vocação à
vida que se realiza e a vocação à vida que ao invés é impedida, o essencial é
como se enfrenta a prova da esterilidade, no momento no qual a vida, em seus
dados objetivos, o fecha naquele beco sem saída, porque Deus não está fechado
no beco cego da esterilidade humana. E aquilo que pode parecer um fracasso, na
realidade, é uma prova mediante a qual Deus está chamando e operando; é Ele que
avança, que vem, que vence, que se revela, que realiza sua intenção original. O
ponto de referência não é o dado objetivo da condição física, mas como a
situação é enfrentada em obediência a Deus, no relacionamento com Ele, na
aceitação da vocação à vida que vem Dele. Quando a vida é vivida na bem aventurança da honestidade, da coerência e da
adesão ao Deus vivo, torna-se fecunda. Lugar comum no Antigo Testamento é
considerar a fecundidade como bênção. Na realidade, o conceito expresso pelo
autor é que a fecundidade e a longevidade são bênção na medida em que se
responde àquela vocação à vida que vem de Deus.
LER: - Sabedoria, capítulo 4
Verdadeira e falsa fecundidade (Sab. 4, 1-6)
O
que pretende o autor quando fala de virtude? Virtude é a capacidade para
acolher a vocação à vida, de acolher aquele dom que vem de Deus que é a
Sabedoria, que é o Seu revelar-se, que é Ele.
A virtude se torna a verdadeira razão que transmite vida aos outros, de
modo que a fecundidade biológica, sem ser minimamente desprezada, torna-se
secundária. A partir dessa virtude, que se busca o impulso, o motivo e sugestão
para crescer e amadurecer na vida. Nos
vv. 3-6, o autor denuncia a fraqueza, a inconsistência da condição humana
quando não está aberta ao relacionamento com o mistério do Deus vivo para quem
os dados negativos e danos se multiplicam mesmo na presença de uma aparente
fecundidade. Deus trabalha, entretanto, neste contexto tão poluído do qual os
homens são responsáveis.
Verdadeira e Falsa Longevidade (Sab. 4, 7-20)
Vv. 7-16. Parece contestado, o
lugar comum de que a vida longa seja motivo de bênção. Ao contrário, a
verdadeira vida, aquela virtuosa, não depende da idade, mas da plenitude
adquirida caminhando em comunhão com Deus, com a vida, consigo mesmo e com os
outros. É a vida na qual o justo alcançou uma plena maturidade da consciência,
tanto por haver realizado tudo aquilo que devia promover dentro de si e, mesmo
se morto prematuramente, ele já está na comunhão com o Senhor, a sua alma está
pronta e agradável a Deus. Paradoxalmente, esta vida se torna medida para quem
é velho, mas tolo e ignorante. A verdadeira diferença é, portanto, entre uma
vida plena, alegre, apegada ao coração de Deus para ser Nele transformada, até a
perfeição, e uma vida aparentemente vazia, egoísta e dominadora, sem alegria e
sem futuro. Depois, Enoc andou com Deus e desapareceu, porque Deus o havia
levado (Gn 5,24).
O v. 19 retoma quase a carta da
descrição da morte de Judas que Lucas faz nos Atos dos Apóstolos (1,18),
representando assim o pecado do ímpio, que é o pecado da humanidade, a nossa,
que rejeita o encontro com o Justo inocente e com a paternidade de Deus.
Ler: - Sabedoria cap, 5
Os iníquos também agem diante do seu fracasso (Sab 5, 1-14)
O
autor do livro nos envolve em uma espécie de ambiente judiciário. Por um lado,
há o justo, citado no singular, e em oposição a ele, os ímpios. O discurso dos
iníquos é um ato de arrependimento. Mesmo consternados, mesmo quando declaram
ter errado tudo, de se ter enganado na vida, os ímpios fazem espetáculo,
enquanto o justo silencia. Os ímpios se julgam a si mesmos, não confiam no
julgamento de Deus e de forma alguma levam a sério o encontro com o Justo; não
acreditam ser possível que algo de bom lhes seja dado por aquele Justo que eles
recusaram. Os iníquos demonstram ser desesperadamente apegados a si mesmos: se
denunciam, se acusam, se condenam e, por si mesmos, se compadecem; de nenhum
modo se voltam para o Justo que eles recusaram. A impiedade, mesmo quando reúne
pessoas conectadas entre eles, por interesses, motivações, propósitos,
linguagem, deixam na verdade, toda pessoa envolvida, no drama do isolamento
mais implacável. A impiedade é sem comunhão. A esperança do ímpio é como palha
levada pelo vento, como espuma leve empurrada pela tempestade, como fumaça pelo
vento dispersa, desaparecendo como a lembrança do hóspede de um único dia.
Um destino oposto: plenitude de vida e perdição (Sab 5, 15-23)
A escuta da Palavra que é
prerrogativa do justo é fundamento de comunhão. A alternativa entre justos e
iníquos é entre a comunhão e a solidão. Os justos, ao contrário, vivem para
sempre, a sua recompensa é com o Senhor e o Altíssimo cuida deles. Por isso,
receberão uma magnífica coroa real, um belo diadema da mão do Senhor, porque os
protegerá com a mão direita, com o braço fará o escudo para eles. Os justos
adquirem dignidade real porque respondem à própria vocação à vida, que é o dom
de Deus. É a realeza da criatura humana na cena do mundo desejado por Deus
desde a origem, a realeza da criatura humana também respeito aos anjos. Toda a
criação está a serviço desta revelação de Deus, desta Sabedoria de Deus que
quer a vida dos homens. Por isso Deus quer arrancar os homens da impiedade, libertá-los
daquele estado no qual são prisioneiros da morte.
Vincenza
«O Espírito de Deus gera no homem
a sabedoria. A sabedoria dá ao homem o conhecimento que move o homem para Deus,
sua vida. Bem-aventurado o homem, diz Jesus, que tem fome e sede de justiça,
porque ficará saciado. Deus é justiça. A fome e a sede de justiça são fome e
sede de Deus. A razão humana não compreende essa fome e essa sede. Isso é
lógico. A razão humana não é a sabedoria do Espírito de Deus e não pode ir além
de seus limites humanos. Mas bem-aventurado quem tem esta fome, esta sede de
justiça produzida pela sabedoria do Espírito Santo. Ele ficará saciado, diz
Jesus. Deus será a sua saciedade; Deus o saciará. (II CdA, dezembro de 1971)
Fontes franciscanas [474]
Desde a tenra idade, ele ficou quase
completamente alheio a quase tudo das realidades divinas, Francisco transcorreu
muito tempo seguindo livre e avidamente as paixões naturais; mas então, quando
a mão direita do Senhor se voltou para ele, conseguiu se libertar do pecado, e
desde então, pela graça e virtude do Altíssimo, foi repleto da sabedoria divina
mais do que todos os seus contemporâneos. De fato, no meio à degradação, não
dos poucos, mas geral, em que a doutrina evangélica havia caído, por causa dos
costumes daqueles que a ensinavam, a Providência de Deus enviou ao mundo esse
homem, para que, como os Apóstolos, fosse testemunha da verdade diante de todos
os homens. E verdadeiramente ele demonstrou com clareza, pela palavra e
exemplo, quão tola, era a sabedoria terrena e, em suma, sob a orientação de
Cristo, ele arrastou os homens, pela tolice da pregação, à autêntica Sabedoria
Divina.
Para Refletir:
* Estou consciente que a prova se torna fecunda ao ocorrer no momento em que aquela situação objetiva é encarada em obediência a Deus, no relacionamento com Deus, no acolhimento da vocação à vida que vem Dele?
* Entendo que a recusa daquilo que acontece é a recusa em aceitar a revelação do mistério de Deus, querer fazer as contas com a paternidade de Deus que se revela?
* Os ímpios se denunciam, se acusam, se condenam por si mesmos, porém,, sempre e, só deles mesmos, se compadecem. A impiedade é sem comunhão. Estou consciente que a escuta da Palavra que é a prerrogativa do justo é o fundamento da comunhão? E que na realidade, a alternativa entre justos e ímpios é comunhão e solidão?
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