Elogio e descrição
da Sabedoria: Amada por Deus Nestes capítulos a Sabedoria, apresentada com 21 qualidades que
exprimem a gratuidade pela iniciativa de Deus, é contemplada como presença que
se difunde em cada realidade. A Sabedoria, assim como o nosso mestre a
contempla em relação a Deus é uma exalação do poder de Deus, umaemanação
genuína da glória do Onipotente, por isto nada de contaminado nela se infiltra.
A sua linguagem é rica, variada,
requintada. Manifesta a vontade de Deus de comunicar a sua inesgotável
fecundidade em revelar-se. A Sabedoria é revelação para nós daquela intimidade
de Deus que se abre, que comunica, que quer difundir-se.
Apaixonar-seporEla Amei a sabedoria e a busquei desde a minha juventude, e procurei
tomá-la como esposa, me enamorei pela sua beleza:0 nosso mestre apresenta a Sabedoria como companheira da sua vida
e, esposa procurada que ele tem amado com um amor que tem reservado e
estruturado o caminho da sua vida: um amor precoce, fiel, duradouro.
Ela manifesta a sua nobreza, em comunhão de
vida com Deus, porque o Senhor do universo a amou. Ela de fato é iniciada na
ciência de Deus e prefere as suas obras: no amor pela Sabedoria o amor de Deus
se faz encontrar e nos introduz na relação com a vontade do amor que Deus quer
revelar-nos.
Se alguém ama a justiça, as
virtudes são o fruto do seu trabalho. Pois ela ensina a temperança e a
prudência, a justiça e a fortaleza, que são na vida os bens mais úteis aos
homens: para o autor o encanto pela Sabedoria tão amada é irresistível: a sua
nobreza, a sua riqueza, a sua inteligência, são as virtudes das quais cada uma
de nós tem necessidade para viver, organizar e valorizar positivamente a vida e
nos ajudam no discernimento dos quais temos necessidade para desemaranharmos em
meio às situações inacessíveis.
Companheira perfeita da vida decidi, portanto, tomá-la por companheira da minha vida, sabendo
que ela será boa conselheira e me trará conforto nas preocupações e no
sofrimento. Por causa dela serei elogiado pelas assembléias e, ainda jovem, os
anciãos me honrarão. No julgamento, terei agudeza e serei admirado pelos
poderosos. Se eu me calar, ficarão na expectativa; se eu falar, me prestarão
atenção; se eu prolongar o discurso, todos colocarão a mão na boca: Salomão diz de si mesmo que a sua experiência de homem apaixonado
tem feito dele um homem satisfeito seja na dimensão pessoal como em relação com
as responsabilidades públicas que têm caracterizado a sua vida.
Governarei os povos e dominarei as
nações; ouvindo o meu nome soberanos terríveis me temerão, mas serei bom para o
povo e corajoso no momento de guerra. Ao voltar para casa, repousarei ao lado
dela, porque a sua companhia não provoca amargura, e a convivência com ela não
traz nenhuma dor, mas contentamento e alegria: o mestre testemunha que se o ambiente público e o privado podem
parecer mundos separados, na realidade, graças ao caminho feito com a
Sabedoria, a atividade pública vem enfrentada com o inesgotável frescor de uma
intimidade ocupada por uma paixão amorosa e o repouso doméstico é habitado pela
relação com o mundo.
Inacessível ao homem, só Deus pode
doá-la Refletindo sobre tais coisas em mim mesmo e pensando no meu
coração que na união com a sabedoria existe a imortalidade; e na sua amizade
grande alegria; e no trabalho das suas mãos uma riqueza inesgotável, e na
assiduidade do relacionamento com ela a prudência e na participação de suas
palavras a fama, eu andava procurando como ter-la comigo.Salomão se apresenta como um homem posto diante do mistério da
própria vida, do nascimento e da morte; o mistério da relação com o mundo e com
a Sabedoria. Afirma que, crescendo, progredindo, avançando naquele discipulado,
naquela busca, naquele caminho de discernimento, de aprendizado, cresce nele o
conhecimento que o coração humano não está em grau de procurar para si mesmo e
possuir a Sabedoria. Existe um mistério na nossa condição existencial: nenhum
homem pode possuir, dirigir, em nome de si mesmo e da própria iniciativa, a
Sabedoria (o revelar-se de Deus), atingível unicamente em força da gratuita
iniciativa de Deus. Só confiando-se à revelação do Mistério, o coração humano
pode tomar consciência de si e dar orientação ao caminho da vida; aquele
caminho que exige um impulso que venha do íntimo. Mas nenhum homem está em grau
de conhecer o próprio coração; é o revelar-se de Deus que o sonda e o torna
instrumento dócil e positivamente fecundo para aquela vocação à vida que, reúne
e protege, torna-se o fio condutor de todo o complexo de relações que à medida
do possível, se vêm entrelaçando no contato com o mundo, com os outros, com os
acontecimentos.
Uma invocação posta à maneira de
uma súplica: o coração humano, na relação com a Sabedoria, é praticamente
desprovido; não nos são títulos de mérito que autorizam o coração humano a
possuir a Sabedoria. A Sabedoria é sempre, para nós, o dom que vem de Deus. De
outra parte é aqui mesmo que o nosso mestre quer conduzir-nos: o coração humano
– aquele coração do qual eu não tenho o controle, que é o meu coração e que é
em mim um mistério indecifrável, foge a toda minha capacidade de controle, de
gerência, de administração – não pode entrar à Sabedoria. Como é possível,
então, avançar na possibilidade, no caminho, na vocação à vida? Junto ao
término do percurso pode voltar atrás e afirmar: isto é possível porque é a
Sabedoria de Deus que se apodera do coração humano; não é o coração humano que
pode possuí-la, é a Sabedoria de Deus que se instala como soberana e mestra no
coração de cada homem, de um pobre homem como que não saberia de outro modo
onde ia chegar. E, portanto, aqui a grande súplica, no cap. 9, “manda a
Sabedoria, envia a Sabedoria”. Se não fosse pela Sabedoria que vem de Deus nós
não estaríamos em grau de viver.
Oração para obter a Sabedoria que
guia a história
Ler: Sabedoria, cap. 9
Sabedoria, dom gratuito de Deus A Sabedoria é sempre, para nós, o dom que vem de Deus. O coração
humano – aquele coração do qual eu não tenho o controle, que é o meu coração e
que é em mim um mistério indecifrável, um mistério indiscernível, fugaz a toda
minha capacidade de controle, de gerência, de administração – não pode aceder à
Sabedoria. Como é possível, então, avançar no caminho para a vida? Isto é
possível porque é a Sabedoria que vem de Deus que se apodera do coração humano,
se instala como soberana e mestra no coração de cada homem. Se não fosse pela
Sabedoria que vem de Deus nós não estaríamos em grau de viver. O revelar-se de
Deus coloca em claro esta profundidade misteriosa que está no coração humano;
por este conhecimento, que à medida do possível, amadurece em um contexto de
radical gratuidade e pobreza, se chega à linguagem da invocação, da súplica, da
confiança na misteriosa iniciativa de Deus que gratuitamente se revela.
0 cap. 9 que traz a súplica para
obter a Sabedoria, assume a maneira de um cântico e se desenvolve em três
estrofes; a primeira estrofe do v.1 ao 6; a segunda do v. 7 ao 12, a terceira
do v. 13 ao 18. A primeira estrofe gira em torno àquela invocação que remeteao
v. 4: Dá-me a Sabedoria; a segunda gira em torno àquela que lemos no v.
10: Enviai-a dos santos céus; a terceira gira em torno ao v. 17: Se
tu não lhes deres Sabedoria.
A súplica recolhe todas as tensões
que são a medida configurada no íntimo do homem, tão oculto, misterioso,
impenetrável, na relação com a Sabedoria. Quanto mais se pratica a relação com
a Sabedoria tanto mais o coração humano descobre estar maduro na experiência da
própria pobreza radical, e nasce a súplica.
Para ser homem O homem, criatura colocada por Deus no mundo, é posto em uma
situação de prioridade, de domínio sobre todas as outras criaturas. Este é o
projeto originário de Deus criador do universo. De outra parte mesmo o homem
com esta sua particular competência no contexto da criação, com toda a sua
responsabilidade nos confrontos de todas as outras criaturas, é uma criatura
servil e fraca, de vida breve: uma criatura doente, esmagada sob uma
carga de misérias inevitáveis.
E então: dá-me a Sabedoria... Mesmo
se alguém fosse o mais perfeito entre os homens, faltando-lhe a tua sabedoria,
ele seria um nada:para que o homem seja homem é necessário que se
entregue à Sabedoria; só a Sabedoria que vem de Deus, só aquela que Deus nos dá
em virtude de uma gratuita iniciativa, derrama sobre nós uma corrente de vida.
Dá-me a Sabedoria, não para me tornar particularmente esperto ou
inteligente; não para ser dotado dos conhecimentos sobre as grandezas, as
complexidades, as articulações do universo; mas dá-me a Sabedoria por
que “não posso ser um homem”se não estou investido pela gratuita revelação
daquilo que tu queres dar-me.
Para estar na altura das intenções
de Deus Tu me escolheste como rei do teu povo: A segunda estrofe coloca a atenção sobre o povo da aliança, o povo
de Deus, o povo de Israel.
Contigo está a sabedoria que
conhece as tuas obras, que estava presente quando criavas o mundo; ela conhece
o que é agradável aos teus olhos, e o que é conforme aos teus decretos: só a Sabedoria pode explicar a revelação que vem de Deus e nos
consente decifrar o significado, os conteúdos, as passagens, os motivos pelos
quais na história da salvação são realizadas aquelas obras que correspondem à intenção guardada por Deus no seu segredo e
que Deus quer realizar na história humana.
Manda do teu trono glorioso, para
que me assista e me ajude no meu trabalho e eu saiba o que te é agradável: como se pode estar no próprio lugar, assumindo as próprias
responsabilidades se não se é assistido pela tua Sabedoria?
Como se pode apressar a
correspondência entre aquele que se está definido, construído, consolidado no
curso da história e as intenções de Deus, se não é a Sabedoria a explicá-lo?Ela
de fato tudo conhece e tudo compreende, e me guiará prudentemente nas minhas
ações e me protegerá com a sua glória.
Para conheceros Seus caminhos
Qual é o homem que pode conhecer a
vontade de Deus? Quem pode imaginar o que o Senhor quer? Os raciocínios dos
mortais são tímidos e incertos às nossas reflexões, porque um corpo corruptível
torna pesada a alma e a tenda de argila sobrecarrega a mente com muitos
pensamentos. Com muito custo, podemos conhecer o que está na terra, e com
dificuldade encontramos o que está ao alcance da mão; mas quem poderá
investigar o que está no céu?
O homem que se faz por si, que se
esforça na tentativa de descobrir o caminho a percorrer e depois se areia, se
cansa, se consume: mas quem poderá investigar o que está no céu?Mesmos
trabalhos; o homem que na vida procura o caminho a percorrer empenhando-se a
realizar os próprios ideais, se encontra exposto ao impacto com o mistério que
o envolve, o surpreende, o desconcerta, o arrasta, lhe se impõe como expressão
de uma outra vontade, a vontade de Deus.
Quem conheceu o teu pensamento se
tu não lhe concedes a sabedoria e não lhe envias o teu santo espirito do alto?Na relação com o Mistério se referindo a uma outra vontade que não
é a nossa e que nos precede, nos acompanha, nos vem ao encontro, nos abre o
caminho, às vezes nos percebemos que é mesmo esta outra vontade a tomar-se
gratuitamente cuidado de nós e nos educa a compreendê-la e a acolhê-la. Tudo
isto no quadro de uma existência humana que se desenvolve na consciência de não
ser proprietário de si mesmo: eu não sou meu, não me pertenço; não é a minha
vontade que faz o mundo, a história, eu mesmo.
É no relacionamento com Deus, com a
sua iniciativa gratuita, com a sua vontade de amor que os homens aprendem a
viver.
Assim foram corrigidos os caminhos
de quem está sobre a terra; os homens foram instruídos no que te agrada, eles
foram salvos por meio da Sabedoria.Os caminhos, as
estradas, os longos percursos aos quais os homens são conduzidos para
corresponder à vontade de Deus, portanto, à plenitude da vida que lentamente
amadurece e frutifica em nós. Deus se revela de modo a colocar-nos em grau de
entender e acolher a sua vontade e a nos envolver em uma relação com ele. Deus
se revela de modo tal a fazer de nós e da nossa liberdade de criaturas humanas
a oferta e a resposta agradável a ele.
Vincenza
A Santidade
colocada por Deus em todas as coisas, da mais natural à mais sobre natural, é
um paraiso de sabedoria e amor. Eis a minha alma aberta, que goza este paraiso
de sabedoria e amor (paraiso de sabedoria que dá amor e paraiso de amor que
mergulha na sabedoria) e no esplendor de Deus se enriquece, como se encontra
Deus em cada criatura, como nela existe e vive, e toda inundada parece que não
existem limites para ela (JA 85).
Pararefletir:
- Como é
possível, progredir no caminho e na vocação para a vida?
- O que
Deus quer me dar?
- Como
conhecer e fazer a vontade de Deus?
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