segunda-feira, 27 de abril de 2020

2º TEMA: O PROJETO DOS MALVADOS


Ler: Sabedoria cap. 2

Por que, Senhor estás longe?

O capítulo 2 do Livro da Sabedoria é esplêndido do ponto de vista literário e de conteúdo, mas contém uma verdade débil e pobre, quase sempre desmentida pelos fatos que acontecem à nossa volta e que todos os dias os meios de comunicação nos propiciam. São fatos marcados por eventos de morte, de projetos de mortes impiedosamente pensadas e perversamente executadas. Como pensar em um Deus que é nosso Pai, que se ocupa conosco e com as coisas do mundo, diante daquilo que acontece e considerando como estão indo as coisas? Essas coisas têm, por exemplo, o rosto de quem desembarca todos os dias, clandestino, às nossas costas; os rostos de homens e mulheres desfigurados pelas guerras, os rostos das crianças violentadas, exploradas e mortas, os rostos das várias solidões... Vivemos abaixados neste mundo e estremecemos angustiados diante da escolha da morte, que domina a história humana, aquela de hoje e aquela de ontem. Escolha constituída pelo ímpio, contrastando a escolha da vida, representada pelo justo que nunca aprova o projeto dos ímpios. Mas como vão terminar as coisas? No confronto fechado entre os dois opostos, ímpios e justos, prevalece sempre a lei do mais forte, e prevalece através da opressão do justo.

O Senhor examina os justos e os ímpios

                O que e dizer diante de tudo isso? O autor responde com a lúcida convicção e a certeza de que Deus se faz presente na história precisamente através do justo, através do seu estilo de vida, da sua qualidade de vida e da sua fé que o faz perseverante até o fim. Mas como termina? Tudo parece terminar com a condenação e a morte do justo, enquanto os maus continuam impertinentes a perseguir os seus projetos.

                Os Padres da Igreja veem nestes versículos nos quais o justo é descrito, uma profecia da paixão de Jesus. A partir dessa perspectiva, há apenas o constrangimento de ler impotente uma história de malvados que, com sua agressividade, invocam e praticam todo o tipo de morte, morte que eles retém como amiga, com a qual concluem uma aliança porque são dignos de lhe pertencer, dignos de fazerem a escolha da morte, uma escolha que  faz descer às periferias da alma humana.

                Lendo este texto, percebemos que o comportamento dos ímpios, o seu devaneio, não está fora de nós, mas também dentro de nós. Somos convidados a reconhecer que ímpios e justos, além de estar no mundo, ocupam a nossa consciência de crentes e o nosso coração. Quando não apreciamos a vida, quando sentimos a necessidade de "livrar-nos" do Senhor, de falhar nos projetos de vida abraçados com entusiasmo e depois abandonados porque decepcionados pelo Senhor, quando sentimos que podemos fazer sozinhos e melhor do que com o Senhor, significa que estamos avançando no caminho do ímpio e que o nosso coração tende a calar a voz interior do justo.  Este capítulo é de vibrante atualidade pela mensagem que contém: onde o egoísmo torna-se um valor absoluto se impõe como necessidade a opressão sobre os outros.

                Quem são os malvados do qual se fala neste texto? Qual é o seu projeto de vida?  Quem é esse "justo" a quem eles oprimem porque os incomoda, tão incômodo ​​que se deve fazer calar, e uma vez por todas eliminado? Quais são os motivos que impele os malvados a persegui-lo?

                Quando foram escritas estas páginas, eram considerados ímpios os discípulos de Espiculo, precursor da filosofia do prazer, segundo a qual o que importa são as emoções e as sensações, e nenhum prazer em si é mal. Os Saduceus eram considerados ímpios pois não acreditavam na ressurreição e na imortalidade para os quais, tudo se joga nesta vida. Segundo os estudiosos, vinham identificados como ímpios também aqueles judeus que haviam abandonado a sua fé porque atraídos pelos aspectos mais sedutores do mundo grego se tornaram apóstatas da Santa Lei.

                Quem é, então, o justo? Segundo os autores, é toda pessoa que exprime o modo de viver do israelita fiel à Sabedoria e à Torá; o seu comportamento provoca intolerância, aborrecimento e ressentimento para com Deus, a quem o justo faz apelo. São, por tanto colocados em confronto dois modos de conceber a existência.

 NO CORAÇÃO DO ÍMPIO, FALA O PECADO

                Monsenhor Ravazi nos sugere ler este texto distinguindo quatro figuras que habitam no nosso coração:

                No vv1-5, a primeira figura é aquela do "filósofo materialista". Às vezes mesmo em nós, podem tomar consistência, pensamentos ou raciocínios tristes, o que os Padres do Deserto chamavam de "loghismoi", pensamentos em conflito, em contradição, que impedem a fé, por exemplo, aqueles relativos ao nascimento e morte. O que sabemos da vida após a morte? Sabemos que após a morte desaparecem progressivamente nome e memória e será como se não tivéssemos existido. Se a vida é assim, como convém preencher o espaço do tempo intermediário entre o começo e o fim?

                 A esse raciocínio responde a segunda voz do ímpio que nos habita, aquela do "filósofo hedonista" (vv 6-9). Por trás desses versículos existe a filosofia do "carpe diem”, (aproveitar o dia de hoje), o projeto de um egoísmo bem cultivado.  Não devemos, porém, demonizar imediatamente essa filosofia, como se tudo fosse negativo; pelo contrário, devemos valorizar as coisas belas criadas e apreciá-las, sem torná-las um prazer sem fim. A voz do filósofo hedonista deve ser considerada como um chamado a um lúcido discernimento sobre o instinto do prazer e do poder que nos habita e que se faz sentir em nós. Esses aspectos não são tabus e não devem ser reprimidos, como nos tem sempre ensinado, mas devem ser guiados racionalmente, sustentados por uma iluminada batalha espiritual.

                No v. 10 é evocada a conexão entre prazer e poder. A força e poder são colocados à disposição do prazer e do bem-estar, porém, permanecem excluídos os últimos: viúvas, pobres, velhos, figuras que evocam situações familiares, econômicas, existenciais, expressivas da condição de fraqueza desprezada pela filosofia dos poderosos.

                A terceira figura é a do "apóstata". Naquele tempo, se desencadeava contra os judeus de Alexandria os primeiros massacres e as primeiras perseguições. Diante do perigo, há quem trai a fé e prefira as teorias materialista e hedonista. O apóstata, procura apagar o testemunho dos irmãos que permaneceram fiéis. (vv. 12-20).

O Senhor vigia o caminho dos justos

Os versículos finais do cap.2 desmentem o projeto dos três personagens: - materialista, hedonista, apóstata. O seu raciocínio é cativante, mas falso. Nestes versículos, o justo surge como uma figura que é tudo, menos passiva ou resignada. Contrasta ativamente as ações dos ímpios, com a sua retidão moral, com um estilo de  vida alternativo àquele por eles praticado. Se a entende com o Senhor; através dele, Deus se faz presente na história dos homens e das mulheres, porque o justo goza de um profundo relacionamento com o Senhor, feita de afetos, dedicação, desejo, esperança, profunda confiança. Tudo isso lhe dá uma força incrível que lhe permite sustentar a oposição, os insultos, as perseguições, as torturas, até a condenação à morte. O justo está envergonhado, incomodado, é um crente que não aceita sofrer em silêncio, mas resiste, opondo-se às ações de seus perseguidores, de modo a se tornar odioso para eles. O justo testemunha com a sua existência que fomos criados, para a vida eterna e para a imortalidade, para a vida e não para a morte. Somos convidados a aderir a esta mensagem, não apenas na teoria, mas deixando que a nossa existência seja nela envolvida. Não é uma passagem automática, deve ser invocada na oração porque nossos "loghismoi" são fortes e atraentes. Torna a Oração, um antídoto para pensamentos tristes.

VINCENZA

                               Filhinhas minhas, espalhadas em todo o mundo, por vocês falo ao coração de todos os homens, na urgência da realidade divina de Jesus vivo no meio do mundo, que só pode vivificar em Deus, as realidades humanas. O coração do mundo, puro vê Jesus, Deus - homem. Ó homem, feito o coração do mundo puro: verá Deus. Verá a Verdade, a justiça, o amor, a vida. Verá que acima de tudo os bens humanos e terrenos são Ele, o Senhor, o Amor, que contém tudo e tudo lhe dá.  Doa o humano e o divino. Verá o valor da sua vida de homem feita para ser homem em Cristo Jesus (II CdA,  março de 1972).

Para Refletir:

Sentimo-nos desconfortáveis nos lugares onde somos chamadas a viver?

 Como expressamos nosso desconforto?

 Deixamos brilhar em nós, uma centelha de luz?

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