sexta-feira, 9 de março de 2012

Estudo - Sexênio - Texto 4

  4 - A POBREZA
“Cada um fique satisfeito com o que tem, pois Deus disse: “Eu nunca te deixarei, nunca te abandonarei”. Não vos esqueçais de ser generosos, e reparti com os outros, porque são esses os sacrifícios que agradam a Deus”.
Caríssimas,
Somos fascinados pelo chamado para uma vida de pobreza, que desejaríamos sempre mais radical. Por que? A resposta é para procurar naquela liberdade que a verdadeira pobreza, doa ao nosso coração e que nos permite ver Deus, de permanecer n’Ele, de amar e servir os irmãos. Experimentamos também quanta angústia provém do possuir-se e do possuir, quanta cobiça se pode tomar conta dos nossos corações, quanta procura de apoios e de segurança, quanto empenho para defender aquilo que possuímos.
Sofremos uma profunda luta interior entre as seduções das múltiplas riquezas, que aparentemente nos satisfazem, nos dão poder e domínio e aquela necessidade de esvaziamento para dar espaço ao Amor. A conquista do dom da pobreza é uma luta árdua. Inicialmente somos muito generosos, depois terminamos com o falar dela tanto e diante das dificuldades temos sempre a disposição múltiplas justificativas e pouco a pouco empreendemos a estrada dos compromissos. Deveria ser familiar para quem se professa cristão, viver alegremente, a pobreza na contínua descoberta da própria condição de criatura que se sente chamada por amor à existência pelo Pai celeste, que é por Ele mantida em vida e que está no caminho para Ele. A sincera e pacífica descoberta do próprio nada e da própria pequena realidade de criatura, levará a abrir-se todos a si mesmos ao acolhimento do Senhor até repetir e viver: “tu és Senhor o único e verdadeiro Bem!”     
O Pai não só nos criou, mas, também nos tornou todos irmãos em Jesus que nos salvou pela graça, nos quis parte de um universo infinito e nos chama á existência neste precioso momento histórico. O nosso caminho sobre a terra é n’Ele e com Ele e para Ele, não somente, mas é também junto aos outros irmãos e é dentro deste universo. Quando compreendemos tudo isto, o exercício da pobreza torna-se um empenho verdadeiramente sério porque se compreende que é necessário relacionar-se com tudo e com todos com coração livre, na dimensão da fraternidade que exige um amor de serviço recíproco, de ajuda, de comunhão e não uma atitude de domínio, de egoísmo e de exploração. Eis porque nos fazemos pobres: é a condição indispensável para amar Deus e os irmãos. Muitas de nossas tristezas e preocupações nascem do possuir: pouco ou muito, bens materiais ou espirituais...
Certamente a condição do pobre é envolvida também pelo escuro, pelo temor e incertezas. Fazer de Deus o único bem, por n’Ele toda confiança e amar os irmãos como Jesus nos ensina, esvaziar-se verdadeiramente o coração. Devemos passar pelo caminho do sofrimento e da cruz também sempre sustentada pela serenidade e pela força do amor.
A secularidade consagrada põe por sua natureza, nas condições comuns de vida, sem nenhum sinal de distinção e sem proteção. Viver a consagração na secularidade já exige uma anterior forma de pobreza, que é a partilha, sem separação das condições de vida dos nossos irmãos, para viver e testemunhar hoje, Jesus pobre e crucificado, único e verdadeiro Bem. Com sabedoria e simplicidade caminhamos, junto aos irmãos que o Senhor nos da, para construir o seu Reino de amor, partilhando presença, tempo, trabalho, fadiga. Nos empenhamos a testemunhar que se pode ter uma justa relação com os bens terrenos. Ela doa liberdade e conduz ao amor verdadeiro e é a relação mesma que Jesus nos testemunhou e ensinou. É uma pobreza que nos dá alegria mesmo se exige de nós tanto empenho, porque é plenitude da presença de Deus. È um aspecto específico da nossa pobreza de seculares consagradas, aquele andar cada  naqueles lugares nos quais a Providência nos coloca, para viver a nossa missão de presença evangélica; é a pobreza aquele contínuo silêncio que acompanha a nossa existência. É a pobreza de fermento que sabe desaparecer, do sal que sabe diluir e sabe dar sabor as pequeníssimas coisas da cada dia, instante por instante, sabendo permanecer só debaixo do luminoso e quente sol do amor de Deus.
Que coisa se interpõe a esta nossa pobreza de seculares consagradas?
Revisemos os nossos sentimentos, as motivações dos nossos comportamentos e reflitamos que a pobreza não é um conjunto de sim ou de não, não é só a distinção entre o necessário, ordinário e extraordinário, mas é o caminho da liberdade que conduz ao Amor e faz acolher o Amor. O Senhor nos dê muita generosidade para percorrê-lo.
(Vida de Família n. 01/93-94)
Porque ser pobres
É bom perguntar uma vez: porque viver na pobreza? Quando percebemos no profundo do coração o chamado do Senhor para segui-lo na vida consagrada secular, não pensamos logo e explicitamente nos conselhos evangélicos, mas estávamos fascinadas pela descoberta do chamado que estava tomando forma dentro da nossa existência.
O olhar do Senhor Jesus, que cada uma sentiu de um modo exclusivo e pessoal, moveu os nossos primeiros passos em direção d’Ele, fazendo-nos encaminhar ao seu mistério de amor.
Nós encontramos, assim, pouco a pouco, com o Cristo pobre; Ele, por nós, de rico se fez pobre, quis assumir a nossa condição humana e experimentar a nossa vida no completo abandono ao Pai.
Este é o mistério íntimo e pessoal de Jesus que ainda hoje vem re-propor aos seus amigos.
A nossa resposta para tanto amor passa através de um projeto de vida que vê no voto de pobreza um aspecto fundamental, porque é a condição indispensável de quem quer se colocar no seguimento de Cristo pobre. O nosso ser pobre, parte para esta sede de adesões a Ele pobre.
Se as reflexões sobre a pobreza não partem deste fundamento, nós avançamos em mil raciocínios áridos, feitos de quantidade, de números, limites, de ordinário ou extraordinário que podem ir para o infinito.
Certamente uma vida vivida na pobreza, pode ter tantas motivações também sociológicas e humanitárias, mas para nós é a expressão visível do encontro com uma pessoa: o Cristo pobre.
A confirmação, o artigo 11 da Regra afirma: “Cristo pondo toda sua confiança no Pai, embora apreciasse atenta e amorosamente as realidades criadas, escolheu para si e para sua Mãe uma vida pobre e humilde”. Ainda o art. 13 das Constituições diz: “Com o voto de pobreza a Irmã se empenha a conformar-se com Cristo no amor à pobreza”...
O Caminho     
Seguindo sempre o art. 11 da Regra, encontramos firmes pontos de referência aos quais retorno para uma confirmação:
  1. “...embora apreciasse as realidades criadas...” Cada realidade criada, todo bem verdadeiro, tem a sua origem no Criador, portanto é coisa boa. As realidades criadas devem sempre enviar-nos para o louvor de Deus e devem fazer-nos colocar a pergunta: porque estes bens são doados aos homens? Viemos exortar para um olhar atento e amoroso, dirigido para apreciar e para a descoberta do verdadeiro significado que têm em si e ao respeito a eles.
Isto é o contrário do uso exagerado, do consumo pelo consumo, da subversão e do egoísmo.
Nós somos convidados a escolha de uma vida pobre e humilde como fez Jesus, trazendo no coração uma apreciação atenta e amorosa para todas as realidades criadas. Isto tornará mais alegre a nossa escolha, exprimindo mais sensibilidade no diálogo com os irmãos em torno do valor e do respeito dos dons de Deus.
  1. Devemos procurar um “justo relacionamento com os bens temporais” na distância e no uso desses, e a regra para percorrer este caminho que as próprias matérias exigem devem ser simplificadas justamente para aprender a compreender e viver do essencial e a não fazer do que é verdadeiramente secundário tornar-se, ao contrário, central e essencial na nossa vida.
  2. A atitude prática para conquistar é a de tornar-se administradoras dos bens recebidos em favor dos irmãos. O administrador não possui nem aproveita dos bens para si mesmo, mas si sente responsável, sabe que deve prestar contas a Deus de quanto lhe foi confiado para o bem de todos.
Sejamos administradores dos bens materiais e dos talentos que nos foram doados, transformando toda a nossa vida, em serviço.
O caminho que devemos percorrer nos vê empenhadas na apreciação atenta e amorosa das realidades criadas; tal atitude produz ainda mais alegria a nossa escolha livre, de viver uma vida pobre e humilde, como Jesus e Maria e porque tudo isto não ultrapassa no vazio e no impreciso, procuramos uma justa relação com os bens terrenos, tendo como regra ou norma de ouro, o simplificar as nossas necessidades materiais e administração dos bens que nos são doados em favor dos irmãos, eliminando todo interesse pessoal.
No espírito das bem-aventuranças
O art 11 da Regra nos pede de descer ainda mais em profundidade “para purificar o coração de toda inclinação e avidez de posse e de dominação”. São inatos na nossa condição humana o possuir e o domínio, seja das coisas, que das pessoas, no trabalho e no serviço que o Senhor nos chama a desenvolver. São os múltiplos vínculos que produzem a nossa pessoa, privada de liberdade e incapaz de ver os verdadeiros valores, porque se está bastante empenhados no defender aqueles pequenos pontos que dão segurança e poder, sucesso e afirmação. É difícil descobrir estas tendências na posse e no domínio sem um confronto verdadeiro com a Palavra de Deus e sem a correção fraterna. Nos ajudam, também, os acontecimentos da vida pessoal e o que acontece a nossa volta, porque nos obrigam a refletir e a modificar os nossos comportamentos. Sobretudo somos obrigados a interrogar-nos a cerca das nossas relações. Descobrimos freqüentemente que temos esquecido de estar no caminho visando a casa do Pai como “peregrinos e forasteiros” neste mundo, porque nós estávamos muito ocupados em cuidar do sucesso de nós mesmos.
Na condição secular
Para nós é pedido viver no próprio cotidiano o mistério de Jesus pobre. O nosso testemunho se exprime nas comuns condições de vida, caminhando junto, aos irmãos que o Senhor nos dá e partilhando com eles todos os aspectos da vida.
O estilo de vida na simplicidade é essencialmente da secular consagrada, se faz silencioso mas, eficaz, chamando para os valores sobrenaturais, testemunho precioso acerca do limite que toda forma de classe e de consumo devem apenas ter, forte chamado de que a vida não é fim em si mesma e de que os bens que nos são dados não devem ser esbanjados ou possuídos mas valorizados e compartilhados.
Este caminho nasce do amor de Deus que se faz conhecer, para cada uma de nós, e ter sempre diante de si Jesus pobre, porta para a descoberta que todos os aspectos da vida podem ser vistos em uma luz nova e faça crescer em nós a exigência de uma vida essencial, simples, verdadeira, que se exprime com atitudes concretas no mundo.  
Reforcemos o nosso empenho, meditemos Regra e Constituições, verifiquemo-nos com as Responsáveis para que verdadeiramente possamos redescobrir as exigências da pobreza hoje.
Como irmãs, da P.F.F. fizemos votos de pobreza seguindo as nossas Constituições. Em particular são os artigos 13 e 14 que devem servir-nos de pontos de referência para uma constatação.
Ser chamadas para viver em uma mesma família significa empenhar-se em um projeto comum, contido na Regra e nas Constituições, que cada uma assume e exprime de um modo pessoal.
Isto vale também para a pobreza: partindo de uma base comum, cada uma concretiza de modo original e irrepetível, para segundo as condições nas quais se encontra para viver dos dons da graça, da generosidade da resposta.
Motivações de fundo
Olhando mais de perto o art. 13; encontramos indicados 3 (três) motivos fundamentais para abraçar a pobreza. Tais motivos devem ser meditados freqüentemente:
-          conformar-se com Cristo no amor à pobreza;
-          a repor as suas esperanças nos bens celestes;
-          tornar-se mais livre e disponível para o serviço aos irmãos.
Ajustar-se a Jesus Cristo
Se não vem de Jesus, de outro modo, nem a pobreza, nem mesmo a nossa vocação, teria motivo de ser.
È o encontro com Ele e a sua proposta para segui-lo na consagração secular, que nos faz descobrir o caminho da pobreza qual percurso necessário se si quer responder à vocação.
Isto no plano prático da vida de cada dia significa: o acolhimento do cotidiano, reconhecimento nele da presença de Deus, abandono dos nossos planos pessoais para cumprir à sua vontade, alegria de viver na nossa condição de seculares consagradas, onde sentimos o doce “peso” do abandono porque encontramos o Senhor da vida.
Pois, o quanto compreendido, se realiza através de um caminho contínuo de conversão que encontra alimento na Palavra de Deus, nos ensinamentos de Francisco e Clara, do fundador, das primeiras Irmãs e na sincera realização fraterna.
Ainda faz parte plena da conversão o exercício repetido para realizar o bem empreendido na humilde aceitação e superamento dos nossos tantos não cumprimentos, até quando Jesus se encarnar verdadeiramente em nós.
A pobreza é necessária em cada fase deste caminho, seja para acolher o chamado, seja para percorrer o caminho da conversão no humilde reconhecimento da nossa debilidade que cotidianamente deve abrir-se para a graça de Deus.
As esperanças nos bens celestes
As Constituições nos dizem para repor as nossas esperanças nos bens celestes. Isto é, nos vem recordar que estamos a caminho e que os muitos bens que nos acompanham, devem servir pra alcançar a Pátria definitiva e não devem, ser motivo de acúmulo, de ansiedade, de falsa segurança nem tão pouco de constituir deles ídolos.
O exercício da pobreza no reto uso de quanto nos foi dado, na distância necessária e na partilha, é muito importante para aprender a por a nossa confiança em Deus. São necessários sinais visíveis que digam para nós mesmos e a quem vive mais diretamente em contacto conosco, que a escolha da pobreza é um fato real.
Somos pessoas, fraternidade, Instituto, que vivem a pobreza na condição secular e não daqueles que só fazem teoria. Adequado uso dos bens terrenos e toda a nossa existência devem exprimir a orientação definitiva visando o Sumo Bem através desta mesma vida terrena. A pobreza nos ajuda a ser testemunhas da vida eterna.
Liberdade e disponibilidade
Enfim, três motivos de fundo vêm lembrar que a pobreza torna livre a disponível para o serviço aos irmãos.  
Possuir-se e possuir são “atividades” que empenham energia e tempo e conduzem ao egoísmo. São caminhos que conduzem a dobrar-se sobre si mesmo, e pensar continuamente no próprio pequeno mundo. Quando se possui, depois, deve ser defendido e protegido e angústias e temores freqüentemente nos acompanham fazendo-nos esquecer que tudo nos foi dado em dom para que fosse administrado serenamente para o nosso bem e em generosa partilha. O art. 14 afirma: “pratique a economia nas despesas pessoais e generosidade em beneficiar o próximo, empregando os frutos dos seus sacrifícios em ajudar os necessitados”.
Na condição secular
É próprio da nossa forma de vida, conservar a propriedade dos bens, do dinheiro e administração desse. Isto significa fazer-se muito atentas no empenho da dependência e do limite que estão precisos nos parágrafos a, b, c, do art. 13.
Devemos estar muito atentas no empenho da dependência, no modo que aprendemos a viver em atitude de quem administra e não de quem possui, de quem voluntariamente abraçou um limite e não faz e desfaz a seu gosto. O limite e a dependência devem, pois, ser concretamente expressos e exercitados; não basta a atitude interior.
A este propósito nos foram dadas, aquelas normas que bem conhecemos: exposição da situação financeira; permissão para as despesas extraordinárias, prestação de contas.
Devemos sentir tanta alegria porque a Igreja nos dá estas modalidades para concretizar o voto de pobreza. Temos assumido livremente estas obrigações que são fontes, para nós, de alegria, não pelos gestos em si, mas pelas motivações que lhes sustentam.
São válidos meios, ajudas preciosas, que nos são doados no caminho do seguimento de Jesus.        (Vida de Família m. 4/93-94)
Interrogamo-nos
-          O Senhor Jesus é o inspirador e o fundamento do empenho para viver a pobreza?
-          Os bens celestes são já uma realidade hoje. As minhas esperanças onde são orientadas?
-          A minha atitude prática exprime o que?
-          Possuir-possuir-se; doar-doar-se; acumular-partilhar. O que faço na minha vida?
-          No viver concretamente a dependência e o limite, me acompanham atitudes de sinceridade, pontualidade, exatidão e alegria?

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