sábado, 21 de abril de 2018

9 – Fé e testemunho. (1 Jo 5,5-17; 5,18-21) Ler na


A tradição litúrgica da Palavra propõe a leitura desta passagem da carta de João no tempo de Natal, ao refúgio da Epifania, a Solenidade que condensa em si três eventos da vida de Jesus: os reis magos que adoram o Menino de Belém e que o reconhecem como Rei dos Judeus; o milagre da água em vinho que dá aos convidados de continuar a viver a alegria das núpcias na presença dos esposos; o batismo de Jesus que, assumindo a condição humana até à sua kenosi, doa vida nova aos batizados.
O texto inicia com uma pergunta que partindo de uma exigência concreta (vencer o mundo e quanto a ele pertence) entende solicitar a fé em Jesus.
Jesus é o Filho de Deus, vindo com água e sangue: água que purifica a vida; o sangue que é vida e dá a vida: através do dom da sua vida o Cristo doa a vida eterna. Não com a água somente, mas com a água e com o sangue. Se o motivo da encarnação fosse primeiramente a da remissão e da purificação dos pecados bastava só a água, a batismal aquela já usada por João Batista. Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito: o Filho de Deus, o Verbo da vida veio ao mundo para que todos tenham vida e a tenham em abundância, isto é, possuam a vida eterna (cf. 1Jo 5,13).
É o Espírito que dá testemunho porque o Espírito é a Verdade (1Jo 5,6c). É o Espírito que toma daquilo que é de Jesus e o anuncia; é o Espírito que lhes dará testemunho e guia para a verdade toda inteira (cf. Jo 15,26; 16,13-14). Jesus, com a água e com o sangue, e o Espírito dão testemunho de Deus, isto é revelam a comunhão do Pai com o Filho e com o Espírito Santo. São Três aqueles que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue, e os três estão de acordo entre si (1Jo 5,7-8).
Quem crer no Filho de Deus, tem este testemunho em si (1Jo 5,10a): mediante a fé o crente participa da mesma comunhão do Pai com o Filho e com o Espírito Santo (cfr. 1Jo 1,3).
A fé, segundo as enumerações do versículo 4, concede a vitória sobre o mundo. Segundo Jo 15,19 o mundo ama o que é seu. Passar para a fé significa portanto ser não mais para si mesmo mas para Deus (cf. 1Jo 15,19). O êxito é a vitória sobre o mundo, a mesma vitória concedida a quem crer no Filho de Deus, no testemunho que ele dá mediante a água, o sangue e o Espírito.

E tudo isto se torna leve na medida em que nos deixamos gerar por Deus: Quem é  gerado por Deus vence o mundo; e esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé (1Jo 5,4): quem é que vence o mundo se não aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? (1Jo 5,5).
Quem se deixa gerar por Deus, quem acolhe e crer no testemunho de Deus a favor de seu Filho tem este testemunho em si (v.10a), a guarda e se torna sua; ele mesmo se torna este testemunho que é a vida: Deus nos dá a vida eterna e esta vida está no seu Filho. Quem tem o Filho – quem tem este testemunho em si –, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida (v. 11-12).

São três as coisas que tornam ‘falso’ Deus: se dizemos de não ter pecado (1Jo 1,10) se dizemos de não ter agido injustamente. Nenhuma mentira vem da verdade. Quem é o mentiroso se não aquele que nega que Jesus é o Cristo? (1Jo 2,21). Quem não crer em Deus, faz dele um mentiroso, porque não crer no testemunho que Deus deu em favor do próprio Filho (1Jo 5,10).
A mentira (cf. Gen 3) produz um olhar fantasmagórico sobre a realidade e confunde a simplicidade daqueles que se confiam no verdadeiro Deus, no seu Filho Jesus Cristo: a mentira gera a idolatria daqueles falsos deuses dos quais o evangelista na conclusão da carta convida a ter cuidado: Filhinhos, cuidado com os falsos deuses!
O Filho de Deus veio para dar a vida, a vida eterna, a aqueles que creem nele e a ele se confiam. In 1Jo 5,12 se adverte um apelo e juntos numa missa in vigilância: “tenhas cuidado da vida, da tua vida! Creias no Filho de Deus, no seu testemunho! Tenhas em te o Filho de Deus, guarda-o em tudo tu mesmo, com todo o teu ser! Sejas tu a sua testemunha!”
A confiança daqueles que creem no nome do Filho de Deus se exprime na oração voltada a Deus. Aderindo à sua vontade e não a do mundo, estão certos de serem escutados por Deus e conscientes de já possuírem o que foi pedido.
Um exemplo de oração confiante e eficaz é aquela voltada para o bem do próprio irmão pecador que confia no perdão de Deus.
Retomando 1Jo 5,1 poderemos explicar desenvolvendo com “Quem ama aquele que gera (Deus), ame também quem é gerado por ele”, sujeito aqui, mais que o Cristo, são os filhos de Deus (v.2). Quem crer que Jesus é o Cristo, quem acolhe um testemunho explicito de amor que ele deu, é gerado por Deus e participa da filiação divina, da vida eterna. Portanto: quem ama a Deus ame também o seu irmão (1Jo 4,21), isto é creia que também o seu irmão seja filho de Deus, alguém pelo qual Cristo deu a vida para que não se perca.
O evangelista levanta a questão do pecado (a incredulidade!?) que conduz à morte e do pecado que não conduz à morte, quase convidando a não preocupar-se com o primeiro. Por que? O hagiógrafo, não se firma ao caso do pecador ligado a si mesmo e pertencente ao mundo que se fecha ao perdão de Deus porque em Deus não se confia, o santo hagiógrafo parece querer se deter sobre o fato que nem todos os pecados levam à morte. É verdade que toda injustiça é pecado mas, conclui, existe o pecado que não leva à morte (v.17). Portanto eis o convite à oração pelo irmão pecador afim de que Deus lhe dê a vida, lhe conceda o perdão e os purifiquem pela fé.
Parece que o santo hagiógrafo tem a insensibilidade da comunidade para o irmão pecador. Como recorda que a perfeição do amor é alcançada no amor pelo irmão  (ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e o amor dele se realiza em nós – 1Jo 4,12), deste modo parece aqui querer aludir ao fato que a comunidade dos fiéis é uma comunidade não de puros e de perfeitos, mas de irmãos que esperam o perdão de Deus. E por este motivo o convite é para oração para que os irmãos tenham a vida, e a tenham em abundância, aquela eterna.
E agora porque na sua oração ao Pai Jesus pede que não se perca nenhum daqueles que lhe são dados (cf. Jo 17), poderemos afirmar que paradoxalmente o evangelista parece convidar a comunidade dos irmãos a rezar por todo pecado fraterno porque antes de tudo esta é a confiança que temos nele: qualquer coisa que lhe pedimos segundo a sua vontade, ele nos escuta (1Jo 5,14).
O convite é o de tomar cuidado do irmão que caiu no pecado e isto por motivo da fé no Filho de Deus que nos deu a vida eterna e por isso a possuímos. Se é verdade que toda injustiça é pecado, isto todavia toda injustiça não perde a vida eterna. Forma portanto do amor de Deus é rezar pelo irmão, amá-lo como o próprio Deus.
Até agora vimos que quem é gerado por Deus, isto é quem crer que Jesus é o Cristo (cf. 1Jo 5,1), se torna filho com o Filho e participa do mesmo amor que se dilata em sentido vertical para Deus e em sentido horizontal para o irmão. Também vimos que para ser gerado por Deus é aquele que crer que Jesus revela a sua messianidade através do Espírito, da água e do sangue. Col v. 18, entrando no epílogo da carta, vem ampliada e ulteriormente definida a geração por Deus. Acolhendo a vinda na carne do Verbo da vida – retomamos a pedra angular da carta que pomos a modo de inclusão com este epílogo – vemos purificados de todo pecado (cf. 1Jo 3,3-4). Quem permanece nele não peca (1Jo 3,6). Quem é gerado por Deus não peca: quem é gerado por Deus preserva a si mesmo e o Maligno não o toca. (1Jo 5,18) Quem não é mais do mundo (cf. Jo 17,15) mas pertence só a Deus, por Deus é guardado e se torna santo, separado das coisas em poder do Maligno. Ele não será tocado pelo Maligno porque estes é incapaz de tocar as coisas santas, de sustentar a pureza das coisas santas, sem serem queimado, purificado.
Esta é a inteligência que o Filho de Deus nos deu para conhecermos o verdadeiro Deus: Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu a inteligência para conhecermos o verdadeiro Deus. E nós estamos com o verdadeiro Deus e com o seu Filho Jesus Cristo: ele é o verdadeiro Dio e a vida eterna. Filhinhos, cuidado com os falsos deuses! (1Jo 5,20-21).

Para continuar a reflexão
Estão condizentes em nós os três testemunhos do Espírito, da água e do sangue? Possuímos em nós este testemunho? E o que, mais concretamente, este testemunho significa e comporta?
Estamos dispostas e prontas a rezar pelo irmão pecador? Até que ponto?
O que quer dizer ser gerados por Deus? Quais ao acontecimentos, empenhos, modos de ser e de agir que revelam melhor o meu vir de Deus? e ao contrário quais são os que contradizem?

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