quarta-feira, 29 de julho de 2015

Vida Consagrada

7 – Consagração 
Os padres do deserto não foram a única vertente da vida consagrada. Ademais do grupo apostólico, existia a multidão dos seguidores de Jesus, entre os quais se enumeram setenta e dois, enviados á missão. Evidentemente que não escapava a observação deles  o como Jesus vivia, as exigências consigo mesmo e com aqueles que se propunham segui-lo, ainda que não pertencessem ao grupo dos apóstolos. Houve então pessoas que quiseram viver como Jesus e Maria.

Fala-se das filhas do apóstolo são Felipe que permaneceram solteiras e se dedicaram ao serviço do Senhor inicialmente e da comunidade em seguida. Não se falava nos votos de pobreza, obediência e castidade. Ao que se sabe se conhecia a virgindade consagrada a exemplo de Maria, a mãe de Jesus. Fala-se também de Anália, inicialmente noiva de um tal Daniel, voltando á vida pelo poder de Jesus, dedicou-se totalmente ao seu serviço, mesmo permanecendo com sua família.

Os primeiros cristãos não tinham uma visão completa dos sacramentos. Conheciam bem o Batismo pelo qual recebiam o perdão dos pecados. Na prática desconheciam a Penitencia. Porém com o tempo se deram conta de que o pecado mortal os colocava em situação muito difícil, pois o batismo se recebia uma só vez. O batismo era visto como a única tábua de salvação. A misericórdia do Senhor não teria previsto uma segunda?

Recordaram-se das palavras de Jesus: “recebam o Espírito Santo, os pecados a quem perdoarem serão perdoados e a quem não perdoarem não serão perdoados”. Naqueles tempos a prática deste sacramento era muito dura: primeiro deviam cumprir a penitencia que por vezes se estendia por toda a vida, só depois podendo receber a absolvição. Conseqüência, ou se adiava o batismo para o final da vida, ou se alguém já batizado incorresse em pecado mortal, um outro, talvez um familiar ou da mesma comunidade se oferecia para fazer a penitencia em lugar do pecador. Normalmente eram jovens. As penitencias incluíam a exclusão do matrimonio, entre outras penas. Surgiram na Igreja grupos de penitentes voluntários, a Ordem da Penitencia. As jovens eram chamadas de virgens e os rapazes ascetas. Sabe-se que são Cipriano, bispo de Cartago assistia um desses grupos em sua diocese.  

Quando pelo ano 500, são Bento instituiu a vida monacal, uma forma de fazer penitencia que substituiu o monacato no deserto passou a substituir também a chamada Ordem da Penitencia que foi desaparecendo. Esses grupos de penitentes voluntários eram verdadeiramente consagrados seculares em suas comunidades em suas famílias, em suas atividades, cujo carisma era o fazer penitencia pelos pecadores. Com o andar dos anos se tentou restabelecer esta modalidade de consagração, contudo, sem resultado. Precursoras dos atuais Institutos foram as ursulinas, que se obrigaram a se fazer monjas, em força das disposições da Igreja, na época.

Somente nos inícios do século 20, os Institutos seculares reaparecem. O primeiro deles foi a Realeza de Cristo. A Pequena família Franciscana aparece em 1929. A Pequena Família de Irmãos franciscanos, em 1992. Pio XII canonizou os Institutos Seculares de Vida consagrada com a carta apostólica “Provida Mater Ecclésia” em 1947.

Nota: esse é um resumo muito sucinto da historia dos Institutos seculares, apenas para uma primeira informação. Frei Antoninho.

8 – Consagração     -      Formação e retiro.
Leitura.   No Evangelho encontramos um fato muito interessante, os discípulos dizem a Jesus: Si tal é a condição do homem em relação á mulher, não paga a pena casar-se! Jesus lhes responde: Nem todos entendem este modo de falar senão aqueles a quem lhe seja concedido: Há eunucos que nasceram assim desde o seio materno; há outros que foram feitos tais pela maldade dos homens e há outros que se fizeram tais  por causa do reino dos céus. Quem puder entender  que entenda. (Mt.19, 10-12).

As últimas palavras de Jesus se referem àqueles que livres e voluntariamente escolheram a vida celibatária em busca da perfeição evangélica e da difusão do reino de Deus. Por isso renunciam á construção de uma família própria, renunciam a ter um esposo ou esposa, a filhos e netos... Renunciam mais: a possuir bens materiais, para viver exclusivamente para os bens do reino, renunciam mesmo a vontade própria para se submeter totalmente á vontade de Deus.

Jesus mesmo dá o exemplo: Ele renunciou a possuir riquezas e bem estar material: “O filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”(Mt.8,20; Lc9,58); renunciou a vontade própria: Pai, faça-se a tua vontade e não a minha” (Lc 22,42); renunciou ao matrimonio: Eu e o Pai somos um (Jô. 10,30); o matrimonio corresponde a uma necessidade humana, Cristo sendo um com o Pai exclui qualquer carência.

Outro exemplo é Maria, sua mãe: Quando o anjo lhe anuncia que será mãe do Messias, responde: “Como será isso, se não conheço homem”?(Lc. 11,34) Casada juridicamente com José, consagra sua virgindade no cuidado de seu filho e filho de Deus. Quando morreu Jesus foi confiada por ele aos cuidados de um sobrinho. Quando o anjo lhe revelou o mistério de sua concepção respondeu com um testemunho de inteira obediência aos desígnios de Deus: “Sou a escrava do Senhor, cumpra-se em mim segundo a sua vontade”(Lc 1, 38). Quando apresentou o Menino no Templo ofereceu com José um par de rolas, sacrifício oferecido pelos pobres.

José também é exemplo de um consagrado secular: casado com Maria, respeita a consagração de sua esposa e ele mesmo se consagra na guarda da vida de Maria e do menino que levava em seu ventre. Carpinteiro em Nazaré é testemunho de um simples homem do povo que vive do seu trabalho. Quando pensou em abandonar Maria, esclarecido pelo anjo, num testemunho de obediência, assume sua função de guarda fiel de sua esposa e de pai  adotivo de Jesus. Está aí o casto, o pobre, o obediente.

Jesus, Maria e José são exemplos de seculares consagrados á causa de Deus. Externamente igual a todos os nazarenos e nazarenas, são porem, consagrados á mais alta missão que jamais o Pai do céu confiou a um ser humano. Para isso se santificam e a essa missão se dedicam de corpo e alma: Jesus Deus e homem, o redentor e fundador da Igreja; Maria, a virgem - mãe imaculada, corredentora e mãe da Igreja; José o guarda e patrono da Igreja.

A Sagrada família é a patrona da PFIF e de fato de todos os Institutos seculares de vida consagrada, seguidores do seu modelo de vida.


Meditação: releia o texto, conferindo tudo no Evangelho. Oração: Conversa com Deus, Jesus, Maria e José sobre o mistério da vida consagrada e os seus planos de consagração. Contemplação: Voa no tempo e no espaço e visita esta família admirável. Observa silenciosa e amorosamente como vivem, como se quieren, como se ajudam... etc.


9 – Consagração. .  -   Formação e retiro.
Que diz a Igreja? Jesus afirmou: “quem vos escuta a mim escuta e quem vos despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou”. Este texto é importante porque o Senhor confere á Igreja o seu poder. Não somente nos casos em que está em jogo a infalibilidade, mas de maneira geral sempre que se pronuncie, oriente ou corrija mediante documentos oficiais. Com relação á vida consagrada a Igreja tem uma experiência secular e com o testemunho de tantos consagrados, mais a reflexão teológica, sua palavra adquire também uma autoridade humana de grande valor.

No documento “Lúmen Gentium” (Luz dos povos) nos diz: “O fiel cristão mediante os votos e outros vínculos similares por sua própria natureza, se obriga á pratica dos três votos se entregando totalmente a Deus sumamente amado, de modo que se ordena ao serviço de Deus e a sua glória, por um título novo e especial”.   Pelo batismo se está morto ao pecado e consagrado a Deus; porém para que se possa tirar um fruto mais ubérrimo da graça batismal, se pretende pela profissão na Igreja dos Conselhos evangélicos, livrar-se dos impedimentos que poderiam afastar do fervor da caridade e perfeição do culto divino e é consagrado intimamente ao serviço divino. A consagração será tanto mais perfeita, quanto melhor representa, por vínculos mais firmes e mais estáveis ao Cristo unido com vínculo indissolúvel á sua Igreja”. (LG.44).

O texto se apresenta com um conteúdo muito rico; simplificando: 1º - A consagração pelos votos tem suas raízes na consagração batismal, que é a consagração fundamento. 2º- A consagração pelos votos é tal por um título novo e especial; nos consagra mais intimamente e expressa mais plenamente a consagração batismal.

O documento “Perfectae Caritatis”: “Recordem em primeiro lugar os membros de qualquer Instituto que pela profissão dos conselhos evangélicos, deram uma resposta ao chamado divino, de modo que não somente estão mortos ao pecado, mas também renunciando ao mundo vivem somente para Deus. Já que entregaram toda sua vida ao seu serviço, o que constitui certamente uma peculiar consagração, que tem suas raízes na consagração do Batismo, a expressa mais plenamente. E porque esta entrega de si foi recebida pela Igreja, saibam que ficam vinculados ao serviço da mesma”(PC.5).  

Simplificando: 3º - O consagrado vive somente para Deus, é propriedade divina. 4º - Está vinculado á Igreja que recebeu sua consagração na representação do Senhor. 

Esta lição leva a que os consagrados entendam melhor a natureza de sua consagração em relação a Deus e a Igreja e possam dar-lhe o devido valor, prestar-lhes o devido serviço, admiração e gozo espiritual.

Meditação. O tema é de natureza teológica, porém não tão difícil de ser entendido. Leia mais uma vez. Se necessário pode consultar-me por internet.
Oração: Peça com fé e humildade a graça de cada dia aprofundar-se mais e mais no sentido de sua vocação, sinal de uma predileção muito grande de Deus por sua pessoa. Contemplação: Diante de algo tão grandioso e misterioso que nunca será entendo em plenitude, silencia boca e mente, e assim, simplesmente permaneça em um  silencio gozoso, humilde e grato. Fr.Antoninho.

10 – Consagração.   -    Formação e Retiro

Foi dito que o Batismo é a consagração fundamental. Sem o batismo, nenhum sacramento é sacramento, nenhuma consagração é consagração. O batismo faz do batizando membro da Igreja de Cristo, membro do corpo místico de Cristo, filho de Deus em e por Jesus Cristo, templo vivo do Espírito Santo, morada da Santíssima Trindade.
Disso vem o conceito de consagrado. O ser humano batizado é misteriosamente separado para Deus, unido a Deus, isto é, ao Santo, ao Sagrado. Essa proximidade com Deus o coloca na dinâmica da santificação, pois o Senhor diz no Livro do Levítico: Porque eu sou Jahvé o  vosso Deus, santificai-vos e sede santos porque eu sou santo” (Lev.11,44)
Conclusão 1ª: A finalidade da vida consagrada, com suas raízes no Batismo, é a perfeição da vida cristã, da vida Evangélica, em outras palavras, a santidade.

No Evangelho Jesus dá poderes extraordinários á Igreja: “Quem vos escuta a mim escuta; quem vos despreza a mim despreza; o que atem na terra será atado no céu, o que desatem na terra, será desatado no céu”. Isso significa que si a Igreja recebe os votos do consagrando é o céu, Deus, quem os recebe. Mais: a iniciativa não é do consagrando, pois a vocação e a consagração vêm de Deus. Ao homem cabe a resposta.
O já consagrado pelo batismo, é consagrado mediante os votos, por um título novo especial; igualmente o consagrado pelo batismo vinculado a Igreja, se vincula mediante os votos ao serviço da Igreja por um titulo novo e especial.

Conclusão  2º:  Outra finalidade da vida consagrada é o comprometer-se com a difusão do Reino de Deus, ou seja, com o apostolado.

O batismo contém em si todo o pluralismo da vida cristã, é como a semente da qual germinam todas as vocações características do cristianismo: no clero, no laicato na vida consagrada e no mundo secular. Cada vocação explora um filão particular; um filão que nasce do batismo, desenvolvendo as virtualidades que lhe são próprias. Nem o Clero, nem o laicato, nem a vida consagrada e a secular vive todas as possibilidades do Batismo, nenhuma por si mesma esgota a riqueza do Batismo. Todos, porém, são necessários para manifestar o que é verdadeiramente o batismo na vida da Igreja. Leigo, sacerdotes, consagrados e seculares, representam uma plenitude especifica. Na vida consagrada os votos aprofundam, especificam as virtudes da pobreza evangélica, da obediência caritativa, e da castidade solteira contidos no Batismo em gérmen. A encarnação perfeita da vocação cristã não pode realizar-se plenamente em uma só categoria de fieis, somente na Igreja universal. Assim não é difícil entender que o consagrado é tal por seu batismo e por um novo e especial titulo escolhe cultivar determinados valores da vida cristã contidos no Batismo e renuncia a cultivar outros. A vida consagrada, a consagração pelos votos é a que toca o cume de toda a graça batismal (Gutierrez. Teologia sistemática da vida religiosa, Madrid.

Meditação - Releia o texto, analise, se coloque á luz destas verdades, tire conclusões praticas. Oração. Agradeça a Deus por seu Batismo peça a graça de ser fiel á sua vocação. Contemplação: Detém-te no conceito de consagração como plenitude do Batismo e em silencio permita ao teu coração agradecer, louvar e glorificar o Senhor


11- Consagração.     -   Formação e retiro.

Que não é a vida consagrada. Nem tudo o que se afirma da vida consagrada está certo.
1º - A vida consagrada não é um estado  de perfeição no sentido de que outros estados, o matrimonial, o sacerdotal, por exemplo, o  não o sejam. No passado muitos entendiam que para santificar-se era necessário entrar para a vida religiosa ou então imitá-a. O Concilio Vaticano II declarou que o don da santidade pertence á Igreja universal. O dever da santidade não deriva da vocação á vida religiosa, mas do próprio batismo.

2º - Jesus não fundou a vida consagrada mediante os conselhos evangélicos. A vida religiosa surgiu na Igreja no século IV e a secular consagrada já no século I em circunstancias sociais eclesiais especiais. Nem os Santos Padres, nem os Padres do deserto escreveram que Jesus Cristo tenha instituído a vida consagrada.

3º -  Não é a atividade que faz o autentico consagrado. Esta idéia veio do Calvinismo no qual se acreditava que o produzir era sinal de predestinação divina. A modernidade fortaleceu esta idéia: quem produz tem valor, bom religioso é aquele que produz, mal interpretando o slogan de São Bento: “Ora et labora”. O ativismo produziu religiosos secos, vazios, desanimados funcionários público sem identidade. Pior ainda, quando identifica o ser consagrado com alguma obra.

4º - Supervalorização de estruturas que deviam ser instrumentos se tornou a própria instituição. O secundário se fez principal O que era um meio, finalidade: o homem para o sábado e não o sábado para o homem.


Que é a vida consagrada. Até o ano 312 ser cristão era optar pela possibilidade do martírio. Eram tempos heróicos de uma vida cristã fervorosa. Com o famoso edito de Milão a Igreja ganhou a liberdade. O numero de cristãos se multiplicou e o fervor inicial baixou. Sem ambiente para viver o evangelho com radicalidade muitos procuraram o deserto para aí viver a perfeição da vida cristã. Depois vieram os mosteiros, fora das cidades, silencio quase absoluto... uma modalidade de deserto.

O concilio de Trento centralizou a ênfase da vida consagrada nos três votos. Porem o projeto original da vida consagrada era viver a aliança do próprio batismo de forma radical. Essa radicalidade, essência da vida consagrada é o amor: “amor a Deus sobre todas as coisas e amor ao próximo como Deus nos amou”. Não existe lei mais importante, “viver o primado do absoluto que é Deus.

Conseqüências: 1º - A pessoa consagrada pertence a Deus por uma aliança livremente assumida: vive em Deus e para Deus. E pertence totalmente aos irmãos, servindo a Deus em suas pessoas. Todo o que faça é culto, adoração e serviço. 2º-  A vida se torna uma liturgia perene, um processo de conversão para toda a vida.
Meditação. Releia o texto, devagar, medindo as palavras.
Oração. Talvez que sua vida não seja o que se disse. É hora de orar, de pedir a Deus a graça de viver o verdadeiro sentido da vida consagrada.
Contemplação. Deixa a sua mente e coração demorar-se na pessoa de Jesus como o primeiro e perfeito consagrado.

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