“O
mundo recebeu de Clara um claro espelho de exemplo: por entre os
prazeres celestiais, ela oferece o lírio suave da virgindade. E na
terra, sentem-se os remédios manifestos do seu auxilio (BulC 3)”.
Existe
um objeto mais feminino do que um espelho?
Quase
todas as mulheres carregam um espelho na bolsa. Mas o principio do
espelho de que fala Clara é algo profundo, misto de terra e céus. É
olhar a pessoa humana e enxergar Cristo, o Divino.
O
texto que ouviremos a seguir é da quarta Carta de Clara a Inês de
Praga:
“Olhe
dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus
Cristo, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto, para enfeitar-se
toda, interior e exteriormente, vestida e cingida de variedade,
ornada também com flores e roupas das virtudes, ó filha e esposa
caríssima do santo Rei. Pois, nesse espelho, resplandecem a
bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade,
como, nele inteiro você vai poder contemplar com a graça de Deus.
Preste atenção no principio do espelho: a pobreza daquele que,
envolto em panos, foi posto no presépio. Admirável humildade,
estupenda pobreza. O Rei dos anjos repousa numa manjedoura. No meio
do espelho, considere a humildade, ou pelo menos a bem-aventurada
pobreza, as fadigas e as penas que suportou pela redenção do gênero
humano. E, no fim desse mesmo espelho contemple a caridade inefável
com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer mais
vergonhosa”(4Ctln 15-23).
O
espelho insere-se no conjunto da simbólica francisclariano, que é
muito rica e diversificada. Esse termo “espelho” ocorre 12 vezes
nos escritos de Clara de Assis – na terceira e quarta Carta a Inês
de Praga e em seu Testamento, percebe-se aí que o tema do espelho
não é algo passageiro, próprio de um momento da vida de Clara, mas
um aspecto importante em sua espiritualidade.
Esse
espelho em que Clara cita em suas Cartas refere-se a Jesus Cristo –
pobre. Clara Põe em relevo também a dimensão de testemunho da
vocação cristã. Ela mesma e suas irmãs foram colocadas como
“espelho” não só para outras mulheres que desejavam seguir
Jesus Cristo, mas também para o mundo.
Clara
diz em suas Cartas a Inês de Praga que a contemplação do espelho
transforma a pessoa na imagem contemplada, pois não é nenhum
privilégio, mas uma graça e um compromisso missionário.
Ser
espelho de Cristo, na visão clariana, significa assumir o mesmo
projeto de vida e compartilhar o mesmo destino daquele que foi à
frente e que está adiante.
O
testemunho clariano mais forte e eloqüente é a própria forma de
vida praticada em São Damião.
A
vivência da pobreza na forma da não-propriedade e a prática da
irmandade sem hierarquias, preconceitos e exclusões falaram à
sociedade e à Igreja da época.
De
fato, o testemunho de vida é o mais forte dos argumentos para
defender um projeto ou uma proposta. Por isso, pode-se dizer de Clara
o que foi dito da mulher samaritana: muitos creram nEle por causa do
testemunho dela! (cf. Jo 4,39)
Clara
disse que, na Cruz, Jesus Espelho pediu que olhássemos se havia dor
semelhante à dele. “Vou me lembrar para sempre e minha alma vai
desfalecer em mim. (4Ctln 26)”.
Foi
por isso que Clara tornou-se espelho luminoso: o seu rosto
transformou-se diante de Jesus que ela contemplou. E queria que todas
as Irmãs tivessem consciência disso.
Como
diz São Boa Ventura: “Nós precisamos entrar na verdade de
Deus, isto é, precisamos retirar-nos no interior de nossa mente, que
é imagem perene e espiritual de Deus e se encontra dentro de nós”.
Que
Santa Clara nos mostre seu Espelho, para que possamos enxergar a sua
Imagem Cristalina e aprendamos a cultivar no hoje e no amanhã a
ternura de vida em Cristo, e assim saibamos desejar aos irmãos e
irmãs a Paz e o Bem!
E
Assim seja!
Fontes
Franciscanas
Contribuição
de Luiza Telles
2º
dia do Tríduo de Santa Clara
10/08/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário