quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Santa Clara de Assis – Uma Vida Transparente


O mundo recebeu de Clara um claro espelho de exemplo: por entre os prazeres celestiais, ela oferece o lírio suave da virgindade. E na terra, sentem-se os remédios manifestos do seu auxilio (BulC 3)”.
Existe um objeto mais feminino do que um espelho?
Quase todas as mulheres carregam um espelho na bolsa. Mas o principio do espelho de que fala Clara é algo profundo, misto de terra e céus. É olhar a pessoa humana e enxergar Cristo, o Divino.
O texto que ouviremos a seguir é da quarta Carta de Clara a Inês de Praga:
Olhe dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus Cristo, e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto, para enfeitar-se toda, interior e exteriormente, vestida e cingida de variedade, ornada também com flores e roupas das virtudes, ó filha e esposa caríssima do santo Rei. Pois, nesse espelho, resplandecem a bem-aventurada pobreza, a santa humildade e a inefável caridade, como, nele inteiro você vai poder contemplar com a graça de Deus. Preste atenção no principio do espelho: a pobreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio. Admirável humildade, estupenda pobreza. O Rei dos anjos repousa numa manjedoura. No meio do espelho, considere a humildade, ou pelo menos a bem-aventurada pobreza, as fadigas e as penas que suportou pela redenção do gênero humano. E, no fim desse mesmo espelho contemple a caridade inefável com que quis padecer no lenho da cruz e nela morrer mais vergonhosa”(4Ctln 15-23).
O espelho insere-se no conjunto da simbólica francisclariano, que é muito rica e diversificada. Esse termo “espelho” ocorre 12 vezes nos escritos de Clara de Assis – na terceira e quarta Carta a Inês de Praga e em seu Testamento, percebe-se aí que o tema do espelho não é algo passageiro, próprio de um momento da vida de Clara, mas um aspecto importante em sua espiritualidade.
Esse espelho em que Clara cita em suas Cartas refere-se a Jesus Cristo – pobre. Clara Põe em relevo também a dimensão de testemunho da vocação cristã. Ela mesma e suas irmãs foram colocadas como “espelho” não só para outras mulheres que desejavam seguir Jesus Cristo, mas também para o mundo.
Clara diz em suas Cartas a Inês de Praga que a contemplação do espelho transforma a pessoa na imagem contemplada, pois não é nenhum privilégio, mas uma graça e um compromisso missionário.
Ser espelho de Cristo, na visão clariana, significa assumir o mesmo projeto de vida e compartilhar o mesmo destino daquele que foi à frente e que está adiante.
O testemunho clariano mais forte e eloqüente é a própria forma de vida praticada em São Damião.
A vivência da pobreza na forma da não-propriedade e a prática da irmandade sem hierarquias, preconceitos e exclusões falaram à sociedade e à Igreja da época.
De fato, o testemunho de vida é o mais forte dos argumentos para defender um projeto ou uma proposta. Por isso, pode-se dizer de Clara o que foi dito da mulher samaritana: muitos creram nEle por causa do testemunho dela! (cf. Jo 4,39)
Clara disse que, na Cruz, Jesus Espelho pediu que olhássemos se havia dor semelhante à dele. “Vou me lembrar para sempre e minha alma vai desfalecer em mim. (4Ctln 26)”.
Foi por isso que Clara tornou-se espelho luminoso: o seu rosto transformou-se diante de Jesus que ela contemplou. E queria que todas as Irmãs tivessem consciência disso.
Como diz São Boa Ventura: “Nós precisamos entrar na verdade de Deus, isto é, precisamos retirar-nos no interior de nossa mente, que é imagem perene e espiritual de Deus e se encontra dentro de nós”.


Que Santa Clara nos mostre seu Espelho, para que possamos enxergar a sua Imagem Cristalina e aprendamos a cultivar no hoje e no amanhã a ternura de vida em Cristo, e assim saibamos desejar aos irmãos e irmãs a Paz e o Bem!
E Assim seja!


Fontes Franciscanas
Contribuição de Luiza Telles
2º dia do Tríduo de Santa Clara
10/08/2012

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