quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Pequena Família Franciscana - A CONSAGRAÇÃO A DEUS no INSTITUTO SECULAR DA “PEQUENA FAMÍLIA FRANCISCA”.

Segunda Edição
Frei Urbano Plentz
INTRODUÇÃO
Muita gente nunca ouviu falar de um Instituto Secular. Ou, pelos menos, não sabe o que é, especificamente, um Instituto Secular.
Mesmo entre sacerdotes e religiosos, os Institutos Seculares não são muito conhecidos. Sobretudo, quando se trata de dar assistência espiritual a um grupo ou a pessoas que vivem a secularidade consagrada, vem o problema prático de não saberem como dar essa assistência ou orientação.
Este fascículo tem a modesta pretensão, de trazer uma ajuda neste sentido. Mas ele dá só um mínimo sobre o carisma e a natureza dessa forma de vida, hoje cada vez mais espalhada na Igreja.
Além disso, esse livrinho pode servir como “material vocacional”. Ele serve para orientar as pessoas que incluem a possibilidade da secularidade consagrada em sua opção vocacional. Abre-lhes uma primeira perspectiva.
E, no caso da Pequena Família Franciscana (PFF) apresenta um conhecimento bem amplo e detalhado. Dá para conhecer o essencial de sua história e de suas características.
Outra ajuda, que esse estudo pode prestar, é aos assistentes da Pequena Família Franciscana. O que está serve para preparar os Assistentes quanto ao mínimo necessário que devem saber para o trabalho de um Assistente. A partir dessas primeiras noções, podem depois ampliar mais os seus conhecimentos. Aliás, ao lado desse conhecimento mínimo, outro fator importante é a prática que se vai adquirindo com o próprio trabalho.
Cremos assim que este pequeno estudo terá uma boa utilidade prática. Inclusive, para os próprios membros da PFF, conhecerem um pouquinho melhor o seu Instituto e, conseqüentemente, viverem com mais amor a sua consagração que, por meio dele, fizeram.
Se ele cumprir essas finalidades, o trabalho estará plenamente justificado.
Frei Urbano Plentz, OFM.

I. O CARISMA DOS INSTITUTOS SECULARES

Em 1947, quando surgiram oficialmente os Institutos Seculares, o contexto que orientava as várias formas de vida na Igreja, era mais jurídico, do que teológico. A própria Constituição Apostólica que criou os Institutos Seculares, não teve uma preocupação mais profundamente teológica. Nela estão ainda presentes os reflexos jurídicos, bem característicos daquele tempo.

A “Provida Mater Ecclesia” preocupa-se mais com o fato da criação da novidade do que com a sua fundamentação evangélico-teológica. Por isso, a partir da publicação do documento, começaram a surgir estudos de bons teólogos.

Mas eles, desde o princípio, notaram os problemas para caracterizar e situar teologicamente o carisma dos Institutos Seculares. E nesse trabalho, como é natural, surgiram as divergências entre os próprios teólogos, para determinar o essencial e o típico dessa forma de vida na Igreja.

Aos poucos foram-se tornando os estudos feitos, e publicados, de H.U. Von Balthazar, K. Rahner, Canals, G. Lazzati e outros.

Em síntese, pode-se dizer que estes estudos chegaram a sim caracterizar os Institutos Seculares: na essência eles são a Vida Religiosa, pois fazem os três votos e estão sujeitos à Sagrada Consagração dos Religiosos; na vivência eles são seculares, pois “vivem no século e a partir do século” (“Primo Feliciter”, II).

G. Lazzati faz esta pergunta; -“Qual é o elemento característico dos Institutos Seculares?” E ele mesmo responde; -“A relação que existe entre secularidade e consagração”.

Aqui Lazzati se refere aos dois elementos base que caracterizam o SER de um Instituto Secular: a consagração e a secularidade. Em outras palavras, são pessoas que se consagram a Deus pelos três votos, mas continuam tendo uma vivência secular (leiga).

No dia 13 de fevereiro de 1972, pro ocasião dos 25 anos de existência dos Institutos Seculares membros dos mesmos, e procurou dar uma fundamentação mais teológica à sua existência. Entre outras coisas, disse o Papa:

- “A alma de todo Instituto Secular... foi a ânsia profunda de uma síntese:

a) A plena consagração da vida segundo os conselhos evangélicos;

b) A plena presença de uma ação transformadora no interior do mundo” (Cfr. “Grande Sinal”, 1972, n° 5, pág. 389).

Usando uma terminologia muito conhecida na espiritualidade de hoje, podíamos dizer que os Institutos Seculares devem ser uma expressão bem clara da bi-polaridade: viver a contemplação na ação. Mas ação de seculares num contexto plenamente secular (no mundo e partir do mundo”).

Diz o Papa, neste discurso, que “o carisma dos Institutos Seculares é... a presença da Igreja no mundo” (ibidem, pág. 389). Mas esta presença é secularidade “consagrada”. Portanto, não se identifica simplesmente com o carisma dos leitos. É um carisma próprio.

Em outros termos pode-se dizer:

a)      CONSAGRAÇÃO é a entrega livre e total a Deus e à Igreja, mediante o compromisso dos votos.

b)      SECULARIDADE é a vivencia “no Século (no mundo) e a partir do século”. O próprio Papa cita o parágrafo 34 de Lúmen Gentium, dizendo: “o mundo está consagrado a Deus na intimidade de vossos corações” (ibid., pág. 390).

É claro que aqui não devemos pensar em termos de “mundo profano” e nem de “mundo sacral”. Mas no Mundo Criação de Deus que continua sendo de Deus e no qual Deus está presente. E é justamente por isso que os membros dos Institutos Seculares devem testemunhar essa “intimidade social de Deus”. É preciso serem o sinal da presença misteriosa do Cristo ressuscitado no coração da matéria, do cosmos inteiro.

Pela sua quase “onipresença” social e pelo seu trabalho em qualquer profissão que for os membros dos Institutos Seculares prolongam a ação eucarística da lenta e irresistível consagração da matéria e do mundo a Cristo. É a da transignificação  do mundo. Em outras palavras, isso quer dizer que o sentido do mundo não se esgota na matéria. Ele tem uma dimensão que vai além desta: a espiritual.

E esse “testemunho de secularidade” é dado em os ambientes mais variados, inclusive “onde só se pode dar testemunho da Igreja de forma individual, escondida e silenciosa” (ibid., pág. 391). E o Papa ainda acrescenta que “a Igreja tem necessidade desse testemunho” (pág. 392).

Os Institutos devem ser, na sociedade, uma garantia da “secularidade aberta”. Eles são o sinal quase-sacramental da “intimidade social de Deus”. Além disso, também devem ser uma garantia contra o secularismo, que exalta apenas os valores humanos e matérias, separando-os da raiz de sua “origem misteriosa”. Por isso o Papa diz que os membros dos Institutos Seculares devem “estar presentes no mundo, saber-se responsáveis para servi-lo, para configurá-lo segundo Deus, numa ordem mais justa e mais humana, para sacrificá-los por dentro” (ibid., pág. 391).

É o testemunho da dimensão redentora presente na matéria. É a prova que não se precisa “santificar” a matéria, mas sim, de que se precisa “consagrar” tudo a Cristo e , em Cristo, reconduzir tudo ao Pai. E a própria matéria nos deve ajudar a descobrir Deus nela mesma.

Tudo isso  se torna possível quando nós acolhemos a matéria na nocividade do mistério, escondido em seu seio. Só assim, nesta acolhida, se é possível libertá-la e ela nos comunicar o advento da mensagem redentora, que ela mesma carrega no segredo íntimo do mistério do seu ser.

É claro que não há um “sinal palpável” na matéria que nos releva os vestígios secretos do Criador, nela esparramados. A descoberta desses “vestígios” e um coração limpo, em atitudes de verdade “menor”.

Essa atitude supõe a base frontal do amor; um amor que seja capaz de virginizar o ser da pessoa, que vive na constante e “devota” alegria da oferenda da criação inteira do Pai. È o gesto de colocar, constantemente, a criação e a nós mesmos na grande patena do universo.

Essa atitude contemplativa leva o ser humano à superação tranqüila da “ameaça devastadora do secularismo” (ibid., pág. 392). Por isso o Papa afirma com confiança: “A humanidade espera que a Igreja encarne cada vez mais esta nova atitude diante do mundo, que em vós, deve brilhar de modo especialíssimo” (pág. 393).

Agora podemos concluir dizendo que “o retorno contínuo às fontes” (P.C.,1) para os Institutos Seculares, será sempre uma volta à raiz do “Mistério presente no século (mundo)”. Esta atitude é “carismática”, pois prova a imanência do transcedente, e prova que não há nada de “profano” no mundo, mas que tudo é de Deus, “Tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (I Cor. 3,22-23).

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