Segunda Edição
Frei Urbano Plentz
INTRODUÇÃO
Muita gente nunca ouviu falar de
um Instituto Secular. Ou, pelos menos, não sabe o que é, especificamente, um
Instituto Secular.
Mesmo entre sacerdotes e
religiosos, os Institutos Seculares não são muito conhecidos. Sobretudo, quando
se trata de dar assistência espiritual a um grupo ou a pessoas que vivem a
secularidade consagrada, vem o problema prático de não saberem como dar essa
assistência ou orientação.
Este fascículo tem a modesta
pretensão, de trazer uma ajuda neste sentido. Mas ele dá só um mínimo sobre o
carisma e a natureza dessa forma de vida, hoje cada vez mais espalhada na
Igreja.
Além disso, esse livrinho pode
servir como “material vocacional”. Ele serve para orientar as pessoas que
incluem a possibilidade da secularidade consagrada em sua opção vocacional.
Abre-lhes uma primeira perspectiva.
E, no caso da Pequena Família
Franciscana (PFF) apresenta um conhecimento bem amplo e detalhado. Dá para
conhecer o essencial de sua história e de suas características.
Outra ajuda, que esse estudo pode
prestar, é aos assistentes da Pequena Família Franciscana. O que está serve
para preparar os Assistentes quanto ao mínimo necessário que devem saber para o
trabalho de um Assistente. A partir dessas primeiras noções, podem depois
ampliar mais os seus conhecimentos. Aliás, ao lado desse conhecimento mínimo,
outro fator importante é a prática que se vai adquirindo com o próprio
trabalho.
Cremos assim que este pequeno
estudo terá uma boa utilidade prática. Inclusive, para os próprios membros da
PFF, conhecerem um pouquinho melhor o seu Instituto e, conseqüentemente,
viverem com mais amor a sua consagração que, por meio dele, fizeram.
Se ele cumprir essas finalidades,
o trabalho estará plenamente justificado.
Frei Urbano Plentz,
OFM.
I. O CARISMA DOS
INSTITUTOS SECULARES
Em 1947, quando surgiram
oficialmente os Institutos Seculares, o contexto que orientava as várias formas
de vida na Igreja, era mais jurídico, do que teológico. A própria Constituição
Apostólica que criou os Institutos Seculares, não teve uma preocupação mais
profundamente teológica. Nela estão ainda presentes os reflexos jurídicos, bem
característicos daquele tempo.
A “Provida Mater Ecclesia”
preocupa-se mais com o fato da criação da novidade do que com a sua
fundamentação evangélico-teológica. Por isso, a partir da publicação do
documento, começaram a surgir estudos de bons teólogos.
Mas eles, desde o princípio,
notaram os problemas para caracterizar e situar teologicamente o carisma dos
Institutos Seculares. E nesse trabalho, como é natural, surgiram as
divergências entre os próprios teólogos, para determinar o essencial e o típico
dessa forma de vida na Igreja.
Aos poucos foram-se tornando os
estudos feitos, e publicados, de H.U. Von Balthazar, K. Rahner, Canals, G.
Lazzati e outros.
Em síntese, pode-se dizer que
estes estudos chegaram a sim caracterizar os Institutos Seculares: na essência
eles são a Vida Religiosa, pois fazem os três votos e estão sujeitos à Sagrada
Consagração dos Religiosos; na vivência eles são seculares, pois “vivem no
século e a partir do século” (“Primo Feliciter”, II).
G. Lazzati faz esta pergunta;
-“Qual é o elemento característico dos Institutos Seculares?” E ele mesmo
responde; -“A relação que existe entre secularidade e consagração”.
Aqui Lazzati se refere aos dois
elementos base que caracterizam o SER de um Instituto Secular: a consagração e
a secularidade. Em outras palavras, são pessoas que se consagram a Deus pelos
três votos, mas continuam tendo uma vivência secular (leiga).
No dia 13 de fevereiro de 1972,
pro ocasião dos 25 anos de existência dos Institutos Seculares membros dos
mesmos, e procurou dar uma fundamentação mais teológica à sua existência. Entre
outras coisas, disse o Papa:
- “A alma de todo Instituto
Secular... foi a ânsia profunda de uma síntese:
a) A plena consagração da vida
segundo os conselhos evangélicos;
b) A plena presença de uma ação
transformadora no interior do mundo” (Cfr. “Grande Sinal”, 1972, n° 5, pág.
389).
Usando uma terminologia muito
conhecida na espiritualidade de hoje, podíamos dizer que os Institutos
Seculares devem ser uma expressão bem clara da bi-polaridade: viver a
contemplação na ação. Mas ação de seculares num contexto plenamente secular (no
mundo e partir do mundo”).
Diz o Papa, neste discurso, que
“o carisma dos Institutos Seculares é... a presença da Igreja no mundo”
(ibidem, pág. 389). Mas esta presença é secularidade “consagrada”. Portanto,
não se identifica simplesmente com o carisma dos leitos. É um carisma próprio.
Em outros termos pode-se dizer:
a)
CONSAGRAÇÃO é a entrega livre e total a Deus e à
Igreja, mediante o compromisso dos votos.
b)
SECULARIDADE é a vivencia “no Século (no mundo) e a
partir do século”. O próprio Papa cita o parágrafo 34 de Lúmen Gentium,
dizendo: “o mundo está consagrado a Deus na intimidade de vossos corações”
(ibid., pág. 390).
É claro que aqui não devemos
pensar em termos de “mundo profano” e nem de “mundo sacral”. Mas no Mundo
Criação de Deus que continua sendo de Deus e no qual Deus está presente. E é
justamente por isso que os membros dos Institutos Seculares devem testemunhar essa
“intimidade social de Deus”. É preciso serem o sinal da presença misteriosa do
Cristo ressuscitado no coração da matéria, do cosmos inteiro.
Pela sua quase “onipresença”
social e pelo seu trabalho em qualquer profissão que for os membros dos
Institutos Seculares prolongam a ação eucarística da lenta e irresistível consagração
da matéria e do mundo a Cristo. É a da transignificação do mundo. Em outras palavras, isso quer dizer
que o sentido do mundo não se esgota na matéria. Ele tem uma dimensão que vai
além desta: a espiritual.
E esse “testemunho de
secularidade” é dado em os ambientes mais variados, inclusive “onde só se pode
dar testemunho da Igreja de forma individual, escondida e silenciosa” (ibid.,
pág. 391). E o Papa ainda acrescenta que “a Igreja tem necessidade desse
testemunho” (pág. 392).
Os Institutos devem ser, na
sociedade, uma garantia da “secularidade aberta”. Eles são o sinal
quase-sacramental da “intimidade social de Deus”. Além disso, também devem ser
uma garantia contra o secularismo, que exalta apenas os valores humanos e
matérias, separando-os da raiz de sua “origem misteriosa”. Por isso o Papa diz
que os membros dos Institutos Seculares devem “estar presentes no mundo,
saber-se responsáveis para servi-lo, para configurá-lo segundo Deus, numa ordem
mais justa e mais humana, para sacrificá-los por dentro” (ibid., pág. 391).
É o testemunho da dimensão
redentora presente na matéria. É a prova que não se precisa “santificar” a
matéria, mas sim, de que se precisa “consagrar” tudo a Cristo e , em Cristo,
reconduzir tudo ao Pai. E a própria matéria nos deve ajudar a descobrir Deus
nela mesma.
Tudo isso se torna possível quando nós acolhemos a
matéria na nocividade do mistério, escondido em seu seio. Só assim, nesta
acolhida, se é possível libertá-la e ela nos comunicar o advento da mensagem
redentora, que ela mesma carrega no segredo íntimo do mistério do seu ser.
É claro que não há um “sinal
palpável” na matéria que nos releva os vestígios secretos do Criador, nela
esparramados. A descoberta desses “vestígios” e um coração limpo, em atitudes
de verdade “menor”.
Essa atitude supõe a base frontal
do amor; um amor que seja capaz de virginizar o ser da pessoa, que vive na
constante e “devota” alegria da oferenda da criação inteira do Pai. È o gesto
de colocar, constantemente, a criação e a nós mesmos na grande patena do
universo.
Essa atitude contemplativa leva o
ser humano à superação tranqüila da “ameaça devastadora do secularismo” (ibid.,
pág. 392). Por isso o Papa afirma com confiança: “A humanidade espera que a
Igreja encarne cada vez mais esta nova atitude diante do mundo, que em vós,
deve brilhar de modo especialíssimo” (pág. 393).
Agora podemos concluir dizendo
que “o retorno contínuo às fontes” (P.C.,1) para os Institutos Seculares, será
sempre uma volta à raiz do “Mistério presente no século (mundo)”. Esta atitude
é “carismática”, pois prova a imanência do transcedente, e prova que não há
nada de “profano” no mundo, mas que tudo é de Deus, “Tudo é vosso; mas vós sois
de Cristo, e Cristo é de Deus” (I Cor. 3,22-23).